sábado, 18 de dezembro de 2010

O Tempo do Advento, o Ciclo Natalino, o Início do Calendário Cristão, as Cores e o Lecionário Liturgicos

O Ano Cristão ou Ano Litúrgico é o cronograma da contagem de tempos e épocas que faz a Igreja de Cristo em torno dos eventos histórico-redentivos que Deus realizou, no passado, para louvor da sua glória, para o bem de seu povo e para a o julgamento de toda a humanidade. O Ano Cristão (AC) ou Ano Litúrgico (AL) organiza-se em torno de dois ciclos ou períodos anuais dominantes, a saber, o Tempo da Quaresma e o Tempo do Advento. O segundo destes dois ciclos dominantes do calendário é também chamado de Ciclo do Natal. Reconhece-se, todavia, que, historicamente, não tenha sido a atual data do Natal (25 de dezembro) o primeiro dia escolhido pela Igreja para ser marcadamente o dia de celebração do nascimento de Jesus, mas sim, o Dia da Epifania, que corresponde ao dia 06 de janeiro. Muitas são as explicações sobre o dia da Epifania, celebrado no dia seis de janeiro. Mas seja como for ele era visto na conformidade com o nome: a manifestação de Deus em Cristo. O termo Epifania quer dizer literalmente isso “manifestação”, no sentido de revelação: Deus está presente em Cristo e mostra-se ao mundo n’Ele. Por isso esta festa inicia com o nascimento de Jesus onde ele manifestou-se aos pastores no campo e aos magos vindos do oriente, além de revelar-se a Zacarias, quando da circuncisão do Senhor, bem como a João Batista, quando do batismo do Senhor no Rio Jordão. Parte ainda desta manifestação, anterior ao seu chamado Ministério Público, encontra-se na passagem das Bodas de Caná, quando Jesus manifestou [termo grego cujo radical é epifaneia] a Sua glória (Jo. 2.11).

Somente no IV século é que temos o aparecimento das celebrações do Dia do Natal. Foi o Imperador Constantino que, combatendo a celebração pagã do Sol Invicto, adorado no dia 25 de dezembro (solstício do inverno), o estabeleceu oficialmente. Como o único Sol Nascente das Alturas é o Senhor Jesus Cristo, o Imperador, em 354, adota esta data para celebrar o nascimento de Jesus, em combate claro ao paganismo de então. O Rev. Prof. J. F. White esclarece este ponto, fazendo referências a João Crisóstomo, quando registrou:

“Crisóstomo disse a uma comunidade de Antioquia no Dia do Natal de 386: ‘Este dia (…) o qual nos foi trazido agora, não muitos anos atrás, desenvolveu-se tão rapidamente e trouxe tantos frutos’. No Dia da Epifania subseqüente ele explicou: ‘Pois este é o dia no qual Ele foi batizado e tornou sagrada a natureza das águas. (…) Por que é este dia chamado, então, de Epifania? Porque não foi ao nascer que Ele se tornou manifesto a todos, mas ao ser batizado; pois até este dia era desconhecido das multidões’”.

Como os dois ciclos do calendário cristão são marcados por um período onde há uma festa central, antecipado por um período de preparação e seguido de um outro período de celebração. Por exemplo, para a comemoração do Natal o período de preparação é o Tempo do Advento. Este termo quer dizer “vinda” ou “chegada”. Este é o período de preparação para a chegada do Senhor, feito de quatro domingos anteriores ao Natal. No dia seis de janeiro temos o Dia da Epifania e seguindo a este os domingos posteriores a ela (oito domingos).

Estes períodos diferentes, dentro de cada ciclo, são caracterizados por meio das Cores Litúrgicas. Muito se tem procurado significados e sentidos para elas, mas a melhor orientação é aquela que admite que as mesmas tem mais lugar por causa do uso do que por significados simbólicos em si. Mas, seja como for, alguma leitura pode se fazer das mesmas. As cores litúrgicas são: roxo, branco e/ou ouro, verde, vermelho, preto e, mais recentemente, o azul real:

• branco e/ou dourado, por seu uso relacionado à luz e ao metal nobre (ouro), representam a Divindade, com sua luz, sua glória e seu triunfo real. Sempre estão ligadas às chamadas Festas do Senhor, ou seja: Natal e seus domingos seguintes, Páscoa e seus domingos seguintes, Batismo do Senhor, Epifania do Senhor, Transfiguração do Senhor, Ascensão do Senhor, Santa Trindade e a Cristo Rei do Universo (último domingo do calendário litúrgico onde se celebra o senhorio de Jesus sobre tudo e todos);

• vermelho, por seu uso relacionado ao fogo e ao sangue (em lembrança do sangue dos mártires que, segundo Tertuliano, regou a semente do Evangelho) é utilizado para significar a descida do Espírito Santo em línguas como de fogo, além das demais Festa da Igreja, tais como Dia da Reforma (31 de outubro), dia da Igreja Presbiteriana (12 de agosto), aniversário de uma comunidade local, ordenação de ministros e outros ofícios da Igreja;

• roxo, ligado aos período de reflexão e preparação para as duas festas centrais do calendário. Assim, a Quaresma e o Advento;

• preto, usada exclusivamente na Sexta-feira da Paixão, dia da morte do Senhor Jesus Cristo, por relacionar-se com a morte;

• verde, alguns a consideram relacionada à vida e ao crescimento, por isso, são utilizadas nos períodos chamados depois da Epifania e depois do Pentecostes;

• azul real, usada mais recentemente para o período do Advento, em substituição ao roxo, pois se relaciona ao Rei que vem em nome do Senhor.

Aceitamos que o grande valor do Calendário Litúrgico é nos guardar de vivermos uma espiritualidade de um lado individualista e, de outro, superficial. Seguir a sua inspiração, estabelecida por anos de uso, pois remonta o uso dos Salmos, dos Profetas ao próprio Novo Testamento e, assim, à Igreja Primitiva, nos ajuda a um crescimento maior na fé. Pois os domingos são marcados de pelo menos quatro textos fundamentais: Antigo Testamento, Salmos, Epístolas e Evangelho. Com isso temos resgatada a centralidade da Palavra de Deus no Culto Dominical, não ficando a comunidade ao “sabor” de seus dirigentes e/ou pregadores. Usar um texto estabelecido e num sentido relacionado aos demais do domingo, “obriga” o pregador a deixar que o texto e seu(s) tema(s) fale(m) ao povo de Deus e não as idiossincrasias do ministro, exigindo do mesmo que faça uma real “exposição bíblica” nutrindo o povo com o verdadeiro leite espiritual.

Deve-se, por fim, registrar que, ao longo da história da Igreja, foram feitas muitas Tábuas de leitura dominical, sendo que, atualmente, a mais utilizada é a chamada Lecionário Trienal Comum. Ele foi elaborado por liturgos de todo o mundo e de diferentes tradições cristãs, inclusive de origem presbiteriana e reformada, onde trabalharam no mesmo desde 1978, sendo publicado em 1983 e revisado em 1992.

Denomina-se “trienal”, pois ele é feito para uso de três em três anos, nos chamados Ano A, Ano B e Ano C. No primeiro ano a leitura central é do Evangelho de Mateus, no segundo de Marcos e no terceiro de Lucas, permitindo a leitura completa dos evangelhos, dos profetas, dos demais livros do Antigo Testamento e das epístolas, no período de três anos.

Há, ainda, uma seqüência opcional de leituras semanais, que orientam a vida devocional, integrando-a ao movimento dominical e seus temas, o que facilita seu uso na matinas e nas vésperas, das comunidade que ainda se utilizam destas devoções diárias, como faziam a igrejas de Estrasburgo, Basiléia e Genebra, nos tempos dos reformadores Zuínglio e Calvino.

Não existe tempo onde Deus não se manifeste e, por isso, todos os tempos e dias são sagrados e santos, pois os vivemos para Deus, reafirmando com Paulo: quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. Por isso, temos o hábito da leitura diária da Escritura e seguimos este hábito não somente por mero uso e costume, mas porque acreditamos que Deus, pela Palavra, fala por Seu Espírito ao nosso coração. Razão, porque, segue-se a nossa recomendação final: Leia a Bíblia, nela você encontrará as palavras de vida eterna.

*texto de autoria do Ven. Arc. Carlos Alberto Chaves Fernandes (DAR)

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