quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Ano Litúrgico



Diferente dos calendários cívicos, que celebram e comemoram obras humanas, o Ano Cristão (AC) ou Calendário Litúrgico (CL) celebra o que Deus fez em Cristo, o que continua a fazer hoje, mediante o Espírito Santo, e o que Ele promete fazer no futuro.  Assim, o calendário da Igreja vem nos lembrar, continua e sistematicamente, durante tempo cronológico de um ano, dos feitos redentivos de Deus na história, cujo centro é o kairós - o "tempo oportuno" - identificado na Encarnação do Filho e no Mistério Pascal. No esquema deste calendário, Cristo está no seu devido lugar: no centro da história! Reforça, também, a confiança da Igreja na realidade de que a salvação não vem de nós, e sim da graça de Deus em Cristo Jesus. O AC nos lembra ainda da tensão entre o e do ainda não que marcam a misteriosa epifania do Reino: este está presente, mas ainda virá!  Daí entendemos que o resgate ou mesmo a descoberta do AC - junto com seu uso - abundante em teologia e espiritualidade cristãs, urge com forte apelo, em nossos dias, sobre contexto de boa parte do segmento protestante histórico brasileiro e quase que inteiramente sobre seu ramo evangelical, mais jovem, cujas essência e forma parecem-nos nitidamente mutiladas e esvaziadas de significado e de sentido. De certa forma, poderíamos falar até de uma completa dessacralização da vida, da doutrina e do liturgia em diversas denominações e "comunidades" evangélicas. Não há mais rito nem símbolos, não há mais lugar para a contemplação do mistério, perdeu-se a consciência do divino e a religião cristã agora parece-se mais com uma filosofia hedonista de auto-ajuda: antropocentrista em sua orientação, triunfalista quanto ao seu desígnio e esnobe em relação ao passado.

Visando, então, colaborar com os que buscam retornar a tudo o que era, que é e que sempre será comum à fé cristã histórica - o Projeto Litourgos apresenta, a seguir, a primeira parte de um importantíssimo texto sobre o Ano Cristão ou Calendário Litúrgico, de autoria do Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes. Esperamos que nossos leitores, especialmente clérigos (presbíteros, diáconos), seminaristas, ministros leigos, liturgistas e professores de escola dominical possam aproveitar bem este magnífico estudo sobre Calendário Litúrgico Cristão.

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 O Tempo Cristão: O Calendário Litúrgico - Parte I

Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes*


Para que seja plenamente entendido o significado do Calendário Cristão torna-se fundamental entender o sentido que existe no conceito de “tempo” para qualquer pessoa. O Rev. Prof. James F. White nos ajuda a entender o sentido do tempo para todos nós, ao afirmar:

A maneira como usamos o nosso tempo é uma boa indicação do que consideramos de importância primordial na vida. Sempre poderemos ter certeza de encontrar tempo para aquelas coisas que consideramos mais importantes, embora nem sempre admitamos perante os outros ou perante nós mesmos quais são as nossas prioridades reais. (…) O Tempo fala. Quando o damos a outros, na verdade estamos dando a nós mesmos. Nosso uso do tempo não só mostra o que é importante para nós, mas também indica quem ou o que é mais significativo para a nossa vida. O tempo, então, expõe escancarada e involuntariamente as nossas prioridades. Ele revela o que mais valorizamos pela forma como alocamos esse recurso limitado. (WHITE, J.S. – Introdução ao Culto Cristão – ed. Sinodal, 1997, pg. 38)

Para os cristãos não é diferente. Os cristãos levam o tempo a sério. Pois eles sabem que a história é o lugar da revelação divina. Deus se mostra e se desvela no tempo. O Deus dos cristãos se mostra por meio de eventos históricos. Tempo e lugar são fundamentais na fé bíblica, pois os crentes conhecem a Deus por meios de atos concretos, localizados em um determinado espaço e marcado em um tempo determinado também. Por isso diz Paulo: Na plenitude do tempo, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher e nascido sob a lei (Gl 4.4). Certamente baseado no que disse o próprio Jesus, quando afirmou: O tempo se cumpriu, o Reino de Deus está próximo (Mc 1.15).

Os cristãos iniciaram a organização do seu calandário pelo modo como organizaram, primeiramente, a sua semana. No primeiro dia da semana Deus iniciou a criação fazendo a distinção entre a luz e as trevas (cf. Gn.13-5). Os quatro evangelistas são unânimes em afirmar que na manha do primeiro dia o túmulo foi encontrado vazio. Eis a nova criação, com Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos, vence as traves com a luz da sua ressurreição. Por isso, neste dia, desde os tempos antigos dos Atos dos Apóstolos, os cristãos se reuniam, não mais no sábado, mas no domingo (que, aliás, ganha este nome por causa de Jesus sua ressurreição: Dia do Senhor).

Testemunham este fato, ou seja, de que o dia da reunião dos cristãos para o Culto do Senhor era o primeiro dia da semana, quando Deus, na criação venceu as trevas e quando Jesus Cristo venceu a morte as seguintes afirmativas neotestamentárias: 
No primeiro dia da semana [domingo], estando nós reunidos com o fim de partir o pão [eucaristia], Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso [sermão] até meia-noite. (At. 20.7)
No primeiro dia da semana [domingo], cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando [a coleta]. (I Co. 16.2)
Achei-me em espírito, no dia do Senhor [domingo], e ouvi por trás de mim uma grande voz, dizendo: (…) (Apc. 1.10)
No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana [domingo], Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. (…) E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e O adoraram. (Mt.28.1,9)
Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana [domingo], apareceu primeiro a Maria Madalena (…). Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa [eucaristia?], e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração [sermão?]. (Mc. 16.9,11)

Poderíamos falar ainda do caminho de Emaús, da Aparição para os 10, depois para os 11, tendo Tomé no meio deles, todas estas aparições realizadas no primeiro dia da semana, ou seja, no domingo, quando os cristãos reuniam-se para orações, partir o pão, ouvir a leitura das Escrituras e receber sua instrução. Além disso, se entendermos, com o Novo Testamento, que foi neste dia que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos, inaugurando a Igreja, torna-se ainda mais claro tal fato, como bem comenta o Rev. Dr. H. O. Old:
Olhemos um pouco mais de perto para alguns exemplos de adoração do Dia do Senhor na igreja cristã primitiva. Foi no Dia de Pentecostes, o qüinquagésimo dia, o primeiro dia da semana depois de sete semanas, que o Espírito Santo desceu sobre a igreja e os primeiros crentes foram batizados. Tinha já depois de apenas umas poucas semanas se tornado costumeiro para todos os cristãos se reunirem na manhã do primeiro dia da semana? É muito importante notar que foi no Dia do Senhor que nosso Senhor derramou Seu Espírito Santo. O primeiro dia da semana não foi apenas o dia da ressurreição mas o dia do dom do Espírito também. (OLD, Hughes Oliphant - Worship That is Reformed According to Scripture, de Hughes Oliphant Old, ed. John Press Knox, Atlanta, 1984)

Assim, o Domingo, tornou-se o dia da reunião dos cristãos para orações, ouvir a Escrituras e sua explanação e o partir do pão. Documentos cristãos primitivos e do tempo imediatamente após o período neotestamentário afirmam e confirmam tal prática (Didaquê, Plínio, Justino Mártir, Constituições Apostólicas, Tertuliano, dentre muitos outros). Neste dia os cristãos reuniam-se para celebrar a nova criação de Deus em Cristo Ressuscitado. A vitória da vida sobre a morte. Reuniam-se neste dia porque Jesus assim o quis, ao reunir-se com eles ressuscitado no primeiro dia da semana. Celebravam a Páscoa de Jesus Cristo, a sua passagem da morte à vida e, com isso, a nova vida que receberam de Jesus.

Nota-se a centralidade da Páscoa no domingo, de sorte que cada domingo é evento pascal. Isso nos leva a entender também que a Páscoa anual, tornou-se, de igual modo, um domingo anual. Foi assim que o primeiro evento do Calendário Anual veio a ser o Dia da Páscoa do Senhor Jesus Cristo. A Páscoa, que era o centro do Calendário Anual no judaísmo, torna-se, também o centro do primeiro Calendário Anual da Igreja, seguindo a orientação paulina quando usa esta festa para fazer a sua cristologia: Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa (…). Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado. Por isso celebramos esta festa. (I Co. 5.7-8). Como se pode notar o Dia da Páscoa era observado na primitiva Igreja.

(Continua)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Liturgia Anglicana

 A Liturgia Anglicana pode ser divida em quatro partes: (1) os Ritos Iniciais; (2) a Liturgia da Palavra; (3) a Liturgia Eucarística; e (4) os Ritos Finais. Há partes fixas, que se repetem a cada celebração, e partes móveis, que permitem outros modos de expressão diante de Deus.

1) Os Ritos Iniciais: começam com um cântico (ou Salmo) e a procissão de entrada; o sacerdote ocupa o seu lugar, saúda o povo, pronuncia as palavras de acolhida; conduz o povo à confissão de pecados e pronuncia a absolvição e a Coleta do Dia.

2) A Liturgia da Palavra: consta das leituras na seguinte ordem: Antigo Testamento, Salmo (seguido do Glória Patri se este não foi lido ao início da celebração), Novo Testamento e Evangelho. As leituras são determinadas pelo calendário litúrgico e são extraídas do Lecionário do LOCb (onde se segue a leitura chamada trienal: ano A, B e C, uma para cada domingo do mês). Em seguida, vem o sermão, o credo e as orações do povo.

3) A Liturgia Eucarística: no LOCb prescreve várias orações eucarísticas alternativas, em geral inicia com o ofertório (ofertas voluntárias, em espécie, e oferta dos elementos: Pão e Vinho, trazidos ao altar), Grande Oração Eucarística, Pai Nosso, Fração do Pão, Comunhão, Oração Pós Comunhão.

4) Os Ritos Finais: constam da despedida, da bênção e do envio ao mundo em missão.


RITOS INICIAIS

a) Acolhida: é uma saudação informal onde o oficiante dá as boas-vindas aos demais participantes da celebração. Faz a introdução ao tema, ao assunto do respectivo domingo dentro do Calendário do Ano Cristão. Introduz o povo no ambiente da celebração. Saúda os visitantes;

b) Saudação: trata-se de uma saudação formal e recíproca, onde o oficiante e comunidade saúdam-se. De acordo com rubricas, existem três formas: uma utilizada da Páscoa até o Pentecostes; outras durante a Quaresma e em outras ocasiões penitenciais; e a mais comum, para as outras ocasiões do ano;

c) Coleta pela Pureza: uma das únicas partes da longa série de orações acompanhando cerimônias privadas do celebrante que o Arcebispo Cranmer conservou ao compor o primeiro LOC (1549). Ela provém do Rito de Sarum. É uma coleta exclusivamente anglicana (mas que pode ser encontrada nas orações luteranas para os oficiantes);

d) Gloria in Excelsis: no século VI era usado, assim como o Te Deum Laudamus, na Oração Matutina das igrejas da Gália (469-542). Era um hino matinal sírio, fazendo parte até hoje dos ofícios bizantinos. Nos ofícios romanos foi incorporado nas missas para domingo e dias santos, salvo os das quadras penitenciais. Em geral é utilizado após a absolvição entretanto, conforme a forma utilizada no LOCb pode variar de lugar na liturgia (após a Coleta por Pureza ou nos Ritos Finais, sendo que no tempo do Advento e da Quaresma devem ser omitidos, assim como qualquer cântico de “Glória”);

e) Kyrie: já presente no clamor de Bartimeu, no Evangelho. Quando os cristãos passaram a incluir essa exclamação no ofício, estavam a confessar Jesus como único Senhor e negando a veneração divina a qualquer senhor deste mundo. “Kyrie Eleison” é, na sua origem, um clamor coletivo da comunidade pelas dores do mundo e não um clamor individual das pessoas pelo perdão dos seus pecados. Pode ser cantado como alternativa ao Glória, mas é usado como resposta ao Resumo da Lei na Ordem Penitencial, ou em resposta a cada afirmação do Decálogo;

f) Confissão, é uma confissão geral de pecados, que deve ser dita de joelhos. A referência foi colocada na revisão de 1675, por influência escocesa, pois que antes o presbítero permanecia de pé, o que ainda acontece na Inglaterra.

g) Absolvição, pode ser pronunciada pelo presbítero, ou pelo bispo, quando presente . Quem a pronunciar, fará voltado para o povo, porque se fala em o nome de Deus, cujas misericórdias não podem ser contadas e com Quem está o perfeito perdão.

h) Coleta do Dia: uma breve oração usada em conexão com alguma parte do culto. Originalmente, todas as litanias finalizavam com uma oração resumindo todas as petições e súplicas (a coleta da litania). Assim, desse papel da oração em reunir, coligir, proveio o nome de coleta (collectio, collecta). Coleta foi, pelo século VI, assimilada na coleta da litania que era usada a guisa de intróito ao ofício de comunhão. É devido a esse incidente que as nossas coletas de hoje, na sua grande maioria, tem como tema rogar pela graça e misericórdia divinas e, assim, como conclusão penitencial.


LITURGIA DA PALAVRA

a) Leituras: foi provavelmente São Jerônimo (340-420) quem primeiro escolheu e dispôs as Epístolas e os Evangelhos. A leitura do Antigo Testamento e Epístolas devem ser feitas do atril pelo(a) leitor(a). O Salmo do Dia deve de ser lido na forma antifonal e seguido do cântico (ou recitação) do Glória Patri (no tempo do Advento e da Quaresma devem ser omitidos, assim como qualquer cântico de “Glória”). O Evangelho é uma seleção de ensinamentos do ministério de Jesus e destina-se a proclamar algum evento da vida de Jesus ou alguns dos seus ensinos admiráveis. O Evangelho deve ser lido no meio da congregação, ou do púlpito (e não do atril), por um Diácono, quando presente, ou outro oficiante.

b) Sermão: após a última leitura bíblica e sua respectiva resposta pela comunidade, a Liturgia da Palavra continua com o Sermão, que deve versar sobre uma das leituras feitas, ou mesmo fazendo referência a todas.

c) Profissão de Fé: o Credo é a declaração oficial das verdades das Sagradas Escrituras sobre a qual se baseia a Igreja. Foi colocado na liturgia para combater as controvérsias. No Oriente, foi introduzido no ano 417, em Antioquia, e em Constantinopla no ano de 511. No Ocidente, o 3º Concílio de Toledo (589) ao inserir o Credo no rito mozárabe contra os arianos. Logo se difundiu na França; mas só foi incorporado à missa romana em 1014. O LOCb contém dois Credos: o Apostólico e o Niceno. O Credo dos Apóstolos é baseado no antigo Credo Romano, que se constituiu a partir do século II, em relação com a celebração do batismo. Foi provavelmente em Roma que tal texto se formou. O Credo Niceno, também conhecido como Niceno-Constantinopolitano, é uma paráfrase, um pouco aumentada, do Credo estabelecido pelo Concílio de Niceia, embora só fosse definitivamente elaborado pelo 2º Concílio, em Constantinopla, em 381. É o único Credo universalmente aceito. O LOCb ainda oferece outras formas de confissão alternativas

d) Oração dos Fiéis (Intercessões): as intercessões são feitas pela Igreja, seus membros e sua missão, pela nação e por todos que exercem autoridade, pela paz e salvação do mundo, pelas preocupações da comunidade local, pelos que sofrem, pelos que partiram.


LITURGIA DA EUCARISTIA

a) Ofertório, as sentenças do ofertório, que foram designadas para serem cantadas como antífonas (offertoria), servem agora somente para anunciar que se vai proceder à coleta nos serviços divinos e que vai começar o ato de oblação na ordem para a administração da Ceia do Senhor, podendo cantar-se um hino durante o mesmo. É parte invariável do culto desde o período apostólico (cf. 1Co 16.2). As salvas recebidas pelo ministro serão solenemente apresentadas e postas na Santa Mesa, passando depois para a credência, que é a mesa auxiliar. As ofertas partem do povo e significam seu respeito e louvor de gratidão a Deus. As oferendas serão apresentadas quando o povo estiver de pé. Faz-se, ainda, o ofertório ou apresentação dos elementos eucarísticos.

b) Saudação da Paz, feita após as intercessões, preparando para a o ofertório, é uma saudação entre as pessoas participantes do ofício litúrgico. O Novo Testamento menciona, como saudação, o ósculo santo, costume ainda comum nos povos orientais que, infelizmente, as igrejas ocidentais perderam (pode ser utilizada após a oração do Pai Nosso).

c) Oração Eucarística, a parte central, a parte sacrificial por excelência da Celebração da Santa Eucaristia. Sua correspondente nos ritos orientais é a “Anáfora”, e no romano, o “Cânon”. As palavras da Oração Eucarística não são fórmulas, mas uma oração que a comunidade dirige a Deus, conforme um padrão básico comum. Esse padrão parece estar preservado numa Oração Eucarística registrada na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma e anotada por volta do ano 215:

I) Saudação, um diálogo introdutório, cuja origem é o judaica (Seder);

II) Sursum Corda, convida-se a comunidade a elevar seus corações, o que equivale dizer pensamentos, a Deus (é um dialogo entre o celebrante e os comungantes que precede à eucaristia em todas as liturgias históricas);

III) Ação de Graças, o celebrante convida a todos a participar das ações de graças. Com estes três elementos, forma-se a chamada: Introdução (ou Diálogo), Sursum Corda e Convite.

IV) Prefácio, há dois prefácios: um permanente e outro do dia (chamado também de Próprio). Permanente: ao dar graças pelas grandes obras de Deus no passado (como Criador e Redentor), a comunidade proclama a sua fé na continuidade de tais atos no futuro. A confiança na continuidade da fidelidade Deus é que permite à comunidade entrar na celebração da Eucaristia, com a certeza de que ali Cristo estará presente e se entregará às pessoas comungantes. Próprio: muda conforme o dia, e no rito romano é considerado como uma porção introdutória à Oração. No LOCb, há Prefácios Próprios para o Natal, Epifania, Purificação, Anunciação, Transfiguração, Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, todos os santos etc. São os grandes eventos da vida de Jesus ou de significação histórica e doutrinária para Igreja. Variam conforme o Calendário Cristão, representam a significação e intenção da eucaristia que se celebra.  Os prefácios são expressões de nosso louvor a Deus pelas fases grandiosas do mistério da encarnação e da salvação.

V)    Sanctus, o uso frequente do Sanctus no ritual judaico talvez tenha influenciado em sua inclusão na liturgia. Às vezes dá-se o nome de Triságio ao Sanctus.

VI) Benedictus, a saudação proferida pela multidão a Jesus quando de entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21,9). Todas as liturgias anteriores à Constituição Apostólica (350) inserem o Benedictus após o Sanctus, exceto a liturgia do Egito. O LOC de 1549 uniu ao texto original do Sanctus o versículo de Lc 18.38, paráfrase que permaneceu, mesmo depois dos cortes feitos pela revisão de 1552.

VII) Memorial, refere-se à redenção. O rito romano se distingue pelo aspecto sacrificial, de modo que oblação é o tema que se nota por quase todo o cânone. O sacrifício, entretanto, é essencialmente eucarístico, isto é, trata-se de ação de graças pelos frutos da terra, pão e vinho, rogando que Deus os abençoe para a comunhão dos fiéis. Com o intuito de evitar que continuassem a interpretar as expressões do rito primitivo da eucaristia numa perpetuação do sacrifício do calvário, Cranmer eliminou toda a ideia de oblação dos elementos, fazendo com que as frases tivessem referência não aos elementos, mas às aspirações dos ofertantes, registrando na oração que o sacrifício e a morte de Jesus na cruz são únicas e definitivas.

VIII) Palavras da Instituição, em forma de uma narrativa, conforme pronunciadas por Jesus (cf., 1Co 11,24-25). A sua função é recontar o relato da Última Ceia de Jesus com seus discípulos, ou seja: autoridade para celebrar a Eucaristia não vem da comunidade, mas de Jesus na ultima ceia. Por isso, reconta-se aqui a narrativa da instituição. Ao dizer as palavras sobre o pão, ergue-se a hóstia, fazendo-se o mesmo com o cálice.

IX) Anamnese, in memoriam mei, não é mera lembrança, recordação, mas realização. A Anamnese chama, invoca uma pessoa ou um acontecimento do passado e o torna presente, ativo, efetivo, aqui e agora. “Seguindo o mandamento de Teu Filho, comemoramos, até que Ele venha”. A Anamnese torna eficiente ao comungante a obra de Jesus ocorrida no passado. O que aconteceu lá se torna válido, na Anamnese, ao comungante. Tem duas partes: , ela lembra aspectos essenciais da vida e obra de Jesus (a encarnação, a paixão, ressurreição e ascensão do Senhor; muitas vezes, cita também a mediação de Cristo à direita do Pai e sua Segunda vinda); 2ª, traz a declaração explícita de que se está aqui oferecendo o pão e o cálice, exatamente com esse significado e objetivo de celebrar a obra de Cristo, em obediência à Sua ordem.

X) Epiclese, termo grego, designa, normalmente, o pedido ao Pai, para que envie o Espírito Santo. Há dois tipos de epiclese nas Orações Eucarísticas: epiclese de consagração: invocação do Espírito sobre os elementos eucarístico, separando-os do uso comum ao sagrado; epiclese de comunhão: invocação do Espírito para que realize aquilo que é o fruto da Eucaristia, a comunhão em Cristo, sendo, assim, uma invocação do Espírito sobre a Igreja. Por meio dela se expressa que nem a pessoa oficiante, nem a comunidade, nem a Igreja são proprietárias da Eucaristia. Nenhuma delas tem em seu poder realizar o que a Eucaristia deve realizar, mas, somente Deus, por Seu Espírito.

XI) Intercessão pela Igreja, no mundo inteiro, pelos bispos, pelos ministros e fiéis, pelos falecidos que morreram na esperança da ressurreição, na memória dos santos e mártires, podendo ser uma intercessão geral.

XII) Doxologia, quer dizer “louvor”, “ação de graças”. A Oração Eucarística termina assim como começou. Trata-se de uma doxologia trinitária, ou seja, de uma exaltação da Trindade.

XIII) Amém.

d) Pai Nosso. Podendo seguir-se a saudação da paz, se não foi feita anteriormente.

e) Fração do Pão, ao partir dir-se-á um dos textos previstos no LOCb.

f) Agnus Dei, cântico primeiramente adotado na liturgia de São Tiago de Jerusalém, que pode ser dito ou cantado ou mesmo fazer a Oração de Humilde Acesso, ou ainda, cantar um hino apropriado.

g) Comunhão do Celebrante, que deverá ser feita enquanto se canta o Agnus Dei ou outro hino escolhido.

h) Comunhão dos presentes, que deve ser feita com os mesmos vindo á frente, ajoelhando-se, e com as palavras ditas pelo celebrante: “O corpo (sangue) de nosso Senhor Jesus Cristo te preserve na vida eterna”.

i) Coleta Pós Comunhão, o LOCb a insere como ação de graças depois da Comunhão. Neste ponto, retornou-se ao padrão das liturgias orientais, estabelecendo uma forma fixa.

RITOS FINAIS

a) Glória in Excelsis, se este cântico não foi feito ao início da liturgia, será incluído aqui, ao final do serviço religioso.

b) Bênção, retirada dos ritos romanos, continuou a ser usada nos ritos galicanos e naturalmente na Inglaterra, até ao tempo da Reforma, com formas variadas que se alteravam, conforme a estação eclesiástica, no Sarum. Era, porém, prerrogativa episcopal somente. No LOCb o ofício termina com uma bênção pronunciada pelo presbítero, em o nome de Deus. A bênção realizada pelo celebrante com os braços erguidos e a palma das mãos voltadas para baixo, sobre a congregação. Este é um gesto de imposição de mãos sobre os eclesianos.

c) Despedida, Cranmer deixou de lado o ite, missa est, substituindo pelo “vamos partir em paz” do rito bizantino, que lhe inspirou a buscar a frase de Paulo em Fl 4.7, com que se inicia a fórmula que temos em no LOCb, e que é privilégio do Diácono proferir.



* Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes, ofa, é Presbítero da Diocese do Recife; Pároco da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade, em Copacabana, Rio de Janeiro; Venerável Arcediago Sul-Sudeste; Frei da Ordem Franciscana Anglicana (OFA).
Contato: revbeto@gmail.com .