terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Você sabe o que é e o que faz um acólito?

Síntese histórica

Acólito é uma palavra grega que significa "ajudante" ou "acompanhante". É o ministro leigo (de ambos os sexos) que acompanha e ajuda os ministros ordenados na celebração litúrgica, representando a congregação junto ao altar.
Há três ordens de ministros na Igreja cristã desde os tempos apostólicos: diáconos, presbíteros e bispos. Mas os acólitos fazem parte de uma tradição muito antiga. Cornélio, bispo de Roma, nos idos do ano 251 d.C., os menciona em uma carta escrita a Fábio de Antioquia da Síria. Já no fim do século II ou início do século III, os documentos da Igreja fazem referência, entre outras, à "ordem menor" de acólito, cuja função era a de auxiliar os diáconos em seu trabalho. O bispo Cornélio menciona a existência de quarenta e dois
acólitos na Igreja de Roma.

Acólito cruciferário à frente do cortejo processional
Cipriano, bispo de Cartago, no norte da África, também cita os acólitos em suas cartas (de 200 a 258). O 4o Concílio de Cartago (398 d.C.), aprovou instruções específicas com respeito à instituição dos acólitos. Provavelmente, segundo alguns estudiosos, os Estatutos Antigos da Igreja (c. de 450) conteriam os decretos desse concílio. Os deveres do acólito, mencionados nesse documento são: levar os castiçais até o altar, acender as velas e entregar os elementos eucarísticos para o sacerdote. Atualmente, quando convocado pelo pároco, o acólito também ministra em outras áreas: música, ensino, pregação, ação social, etc.

Na Igreja da Inglaterra, cuja tradição seguimos, do século VIII ao XVI, os acólitos eram reconhecidos como uma ordem menor. A partir da Reforma, não são mais mencionados. No período de 1833 a 1845, aconteceu o Movimento de Oxford, responsável pela defesa de importantes conceitos: a Igreja Anglicana como instituição divina, a sucessão apostólica, a importância do Livro de Oração Comum, entre outros. Nesse período, ocorreu a redescoberta do acolitato na tradição anglicana e a restauração de suas funções, exercidas, obviamente, por leigos especialmente convocados e treinados para este fim. 

No anglicanismo brasileiro, os acólitos surgiram por volta de 1950, no Rio Grande do Sul (Manual do Acólito, Jubal Pereira Neves, 3a edição, 1983, pg. 6). Em algumas paróquias, os grupos de acólitos recebem o nome de Ordem de Santo Estêvão, porque seu ofício antigo, como vimos acima, era o de auxiliar os diáconos. Estêvão foi o primeiro diácono da Igreja, como também o primeiro mártir (At, caps. 6 e 7). Seu dia no calendário litúrgico é 26 de dezembro.

 Orientações gerais

Com relação ao exercício do acolitato, há costumes diferentes em cada paróquia. Um pároco é mais solene, outro mais informal; um, é mais meticuloso e exigente, outro, mais flexível. A regra sempre é: o pároco (ou o bispo, quando estiver presente) é a autoridade máxima na direção dos cultos. Os acólitos devem sempre subordinar-se a ele e consultá-lo quando tiverem qualquer dúvida. O serviço dos acólitos deve ater-se estritamente às determinações dadas pela autoridade eclesiástica, independentemente das preferências pessoais. Lembre-se que "a obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria; e a arrogância como o mal da idolatria" (I Sm 15.22-23). Servir no altar de Deus e na obra de Deus é um privilégio enorme e uma não menor responsabilidade. O acólito deve orar, pedindo a graça de Deus para poder desempenhar dignamente este ministério na Igreja.

Os acólitos devem chegar ao local de culto pelo menos trinta minutos antes do início da celebração, apresentar-se ao pastor e aguardar suas instruções. Instantes antes do início do culto, um deles deve discretamente acender as velas sobre o altar. A vela acesa tem como simbolismo: "Cristo, a Luz do mundo" e também representa o sacrifício do Filho de Deus por nós, porque a vela, para iluminar, precisa consumir-se.

 No culto, cada acólito deve comportar-se com reverência, pois é representante da congregação no altar e exemplo para o povo reunido. Não deve ser desajeitado para sentar-se ou ajoelhar-se e quando estiver em pé, deve estar em posição de prontidão, sempre atento às determinações do presidente da celebração, sem jamais encostar-se na parede ou em qualquer móvel. Deve portar o Livro de Oração Comum ou o boletim litúrgico, conforme o caso, fazendo os responsos com voz audível e clara, porém discreta, observando atentamente todas as rubricas do ritual. Nunca deve cochichar com alguém durante a celebração; obviamente, alguma situação inesperada pode requerer isto, mas será uma exceção. Caso tenha que transmitir algum recado necessário ao celebrante, deve preferencialmente escrevê-lo e discretamente colocá-lo sobre o púlpito.


Eucaristia

Para auxiliar na ministração da eucaristia, o acólito deverá estar vestido com uma túnica branca (batina), sem estola.cComo preparação para a santa comunhão, o acólito auxiliará o celebrante a lavar as mãos e lavará ele próprio as suas. Antes do culto, providenciará para que o lavabo esteja provido de água limpa. Se for chamado pelo celebrante, o acólito segurará o cálice durante a ceia, para a intinção do pão. Evitar ficar "encarando" as pessoas que estiverem vindo à mesa. Ao final da comunhão, o acólito providenciará a limpeza dos vasos e a arrumação da mesa. Após o culto, deve imediatamente apagar as velas e dirigir-se ao local apropriado para despir a túnica. Entretanto, o presidente da celebração pode requerer que o acompanhe ou que permaneça no local, por algum motivo especial.
                   
Preparo para a eucaristia

A Palavra de Deus aconselha um preparo adequado para recebermos o Corpo e o Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo (I Co 11.17-34, especialmente o versículo 28: "Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice"). O acólito deve esmerar-se no cuidado com esta admoestação. O preparo pode ser iniciado na véspera da celebração e continuar durante a mesma. Devemos estar prontos para entrar na presença real do Senhor Jesus Cristo, que estará conosco no pão e no vinho.

O momento da confissão deve ser vivenciado com devoção sincera e arrependimento verdadeiro. A prática da lectio divina é altamente recomendável para o acólito; a leitura orante da Bíblia o ajudará a desenvolver a espiritualidade necessária para compor dignamente o grupo de acólitos. A oração e a leitura bíblica devem ser uma prática diária de qualquer cristão; muito mais do acólito!

A Ordem de Santo Estêvão

A Ordem de Santo Estêvão, ou o grupo de acólitos, é uma organização composta por crianças, jovens e adultos, de ambos os sexos, desejosos de dedicar lealmente à Igreja seus dons, talentos e habilidades e também vivenciar a liturgia reverentemente, buscando a maior glória de Deus e a salvação dos homens. Não é um grupo fechado nem composto por pessoas superespirituais. A santidade e a entrega de Estêvão, diácono e mártir, e sobretudo sua humildade, serão sempre excelentes exemplos a serem seguidos pelos acólitos. Nunca há perfeição em qualquer empreendimento humano, mas devemos oferecer o nosso melhor para Deus e esperar que ele nos aperfeiçoe a cada dia (Fl 1.6). A experiência tem demonstrado que o grupo de acólitos é um "celeiro" de futuros clérigos e de leigos dedicados à sublime obra do Senhor.

O acólito deve ser um exemplo para toda a congregação, como assíduo participante dos ofícios públicos e demais atividades da Igreja. O acólito deve ser humilde e sincero em seus relacionamentos com os demais membros do Corpo de Cristo. Quando vir que alguém – principalmente um companheiro acólito – cometeu algum erro, procurará, sob a orientação do pastor, ajudá-lo fraternalmente, e discretamente, sem críticas ou julgamento.

Regra de vida

Os exercícios espirituais (leitura bíblica, oração, meditação, confissão, jejum, adoração, simplicidade, submissão, etc.), devem ser uma constante na vida particular de cada acólito, constituindo uma verdadeira espiritualidade, uma regra de vida. Praticados com regularidade, tais exercícios devem tornar-se um hábito (não confundir hábito com rotina), um ritmo, através do qual a vida espiritual pulse e solidifique uma profunda comunhão com Deus e com os irmãos. "Em religião, como em tudo o mais, necessitamos de disciplina para progredir, necessitamos treinamento e prática para um desenvolvimento dos dons que Deus nos confiou" (Jubal Pereira Neves, op. cit., pg. 23).

Quanto a isto, é bom lembrar que o perfeccionismo não nos levará à perfeição; o preciosismo será sempre extremamente prejudicial. Portanto, o acólito não deve ser demasiado exigente consigo mesmo. A busca da excelência é diferente da busca da perfeição. Esta, só existe em Deus Pai, Filho e Espírito Santo; aquela, deve ser um traço
do caráter do ser humano, especialmente do acólito. Se você tiver que aprender uma única palavra em japonês, que essa palavra seja kaizen, a qual significa aperfeiçoamento constante, ou seja, que você não é perfeito, mas deve melhorar cada dia um pouco mais, em direção à perfeicão. A isto pode-se dar o nome de busca da excelência. O acólito, portanto, deve reforçar as virtudes que já possui e esforçar-se por abandonar os vícios, se necessário com a ajuda do seu pastor, pois para isto ele foi designado (Ef 4.11-12). Dia a dia, ponto a ponto, o acólito deve perseguir a maturidade e buscar a plenitude de Cristo (Ef 4.13).

O acólito tem muito a aprender com João Batista quando este referiu-se ao Senhor encarnado: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.30). Parte importante do aperfeiçoamento contínuo do acólito é desvincular-se do seu eu e permitir que Cristo cresça e apareça em sua vida. Assim, o acólito será, como é desejável, a presença de Cristo no mundo.

Conclusão

A vida no acolitato deve se expressar com a presença todos os domingos no culto; na oração constante; na leitura diária da Bíblia e de literatura afim; e na consagração de parte da sua vida às atividades da Igreja: isto inclui ajudar pessoas a receber Jesus como único Salvador e Senhor, atuar intensamente na vida paroquial, interessar-se e agir nas questões sociais e comunitárias e contribuir fielmente para o sustento da Igreja através do dízimo e das ofertas, de acordo com a prosperidade que tiver recebido de Deus. Deus o abençoe rica e abundantemente!

Texto de autoria do Bispo José Moreno, clérigo da Igreja Anglcana Livre

domingo, 13 de fevereiro de 2011

LOC: O Incomum Livro de Oração Comum


Por quanto tempo o povo de Deus tem debatido sobre a linguagem e a ordem do Culto?
Por quase tanto quanto ele tem se reunido para orar e louvar a Deus?

A história da Igreja cristã tem sido marcada por épocas de estabilidade, quebradas por períodos de reforma. Quase sem exceção, o repensar da fé da Igreja (Teologia) tem inspirado a revisão do culto da Igreja (Liturgia), nem sempre nesta ordem. A oração, em uma tradição, precisa ser extemporânea (espontânea), ou não será considerada autêntica. Um século depois, aqueles que herdaram a tradição da oração extemporânea estão publicando livros de oração em um esforço para render ações de graças e intercessão a Deus em um estilo e forma considerados mais dignos da atenção divina. Os salmos metrificados de uma geração são os hinos empolados da próxima. Livros de oração, hinários, ordens de culto e lecionários vêm e vão. Governos e denominações ascendem e caem. E através disso tudo, alguns elementos da fé histórica e do culto da Igreja persistem.

O Pentecostes de 1999 marcou o 450.º aniversário do Livro de Oração Comum (LOC). Anglicanos fazem lembrar, com desculpável orgulho, que este é o mais antigo livro de culto em uso contínuo na Igreja de língua inglesa. Estantes de biblioteca, índices de periódicos e páginas da internet estão repletos da história detalhada e da análise exaustiva do Livro de Oração.

Mas esse aniversário não é simples curiosidade histórica, nem sua comemoração deve ser limitada aos cristãos que respondem a Cantuária. Historiadores da Igreja e teólogos do culto rapidamente nos lembrarão que muita da linguagem do LOC é familiar para incontáveis cristãos que nunca nem mesmo seguraram um exemplar em suas mãos. Esse livro de culto tão incomum, originalmente concebido uma geração antes de Shakespeare, continua a moldar a vida e a fé de cristãos de todo o mundo.

Origens do Livro de Oração Comum

Embora cristãos reformados, luteranos e anglicanos todos derivem uma porção significante de sua teologia e culto das reformas que aconteceram no século XVI, a Igreja da Inglaterra foi única tanto na origem como no resultado de sua reforma. O infame rei britânico Henrique VIII desafiou a autoridade do Papa e conduziu a Igreja da Inglaterra para fora de Roma por motivos tanto pessoais quanto políticos. Liturgia e oração estavam bem embaixo na lista das reclamações do rei. Como resultado, a reforma litúrgica seguiu a separação política a uma distância segura.
Não foi senão com a morte de Henrique em 1547 e a coroação de Eduardo VI (que ocorreu entre uma sonequinha e uma troca de fraldas do novo rei) que a reforma da Igreja inglesa floresceu. Em janeiro de 1549, dois breves anos após a morte de Henrique, uma comissão presidida por Thomas Cranmer, o longevo Arcebispo de Cantuária, compilou e apresentou um livro de oração para a aprovação da Convocação da Igreja e do Parlamento. Essa primeira edição do LOC seria extensamente revisada três anos após (1552) e subseqüentemente, banida durante o reinado de Maria I, "a Sanguinária" (1553-1558). Porém, a influência de sua estrutura e o poder de seu texto mudaram a Igreja.

Católico e Reformado

Embora pareça ser grosseria discutir genealogias em uma festa de aniversário, cristãos reformados e luteranos devem se lembrar de que, de muitas maneiras, o LOC é, em parte, nosso livro também. O Arcebispo Cranmer estava bem a par do progresso da reforma da Igreja no continente. Ao longo das décadas de 1520 e 1530, ele viajou pela Europa a serviço de Henrique VIII, e tomou contato com os ensinamentos dos reformadores, dentre os quais Lutero e Calvino, e aprendeu a política da reforma. Cumpre dizer que Cranmer foi essencial para a ida de intelectuais luteranos, calvinistas e zwinglianos para postos-chave das universidades da Inglaterra. As ordens de culto, as posturas e a linguagem das orações, e o entendimento dos sacramentos contidos no Livro de 1549 refletem uma síntese complexa das teologias e práticas católicas e reformadas.
Arcebispo Thomas Cranmer





Enquanto muito possa ser dito sobre a estrutura, o estilo e a influência do LOC, talvez mais importante para cristãos da tradição reformada seja a linguagem de suas orações e a centralidade que ele dá à Ceia do Senhor. De certa forma, o Livro conservou certos aspectos da herança de Calvino para seus descendentes diretos, até que estivéssemos prontos para recebê-los.

A linguagem das orações

No século XVI, a linguagem do culto era uma preocupação central. O culto na língua do povo não era um debate novo nos anos de 1500, nem era o ponto inicial de atrito para muitos dos reformadores. Mas a tradução do culto do latim para o alemão, francês, inglês e muitas outras línguas locais rapidamente seguiram-se às disputas iniciais. Cada reformador teve o seu poeta. Cranmer não foi exceção (embrora o seu possa ter sido uma comissão inteira!). De qualquer forma, desde a primeira edição em 1549, uma marca do LOC foi a beleza de seu texto.
As Coletas (orações curtas que reunem as preces silenciosas do povo nos diversos momentos do culto) são uma marca registrada do LOC. Muitas destas encontraram lugar em publicações reformadas, como o Livro de Culto Comum (PCUSA, 1993). Nos exemplos abaixo, note-se o uso das palavras e imagens que tornam essas orações simples, elegantes e sinceras (confira também o quadro ao final).

Oração ao fim do dia

Mantém vigia, amado Senhor, sobre aqueles que trabalham, vigiam ou velam nesta noite, e encarrega seus anjos daqueles que dormem. Atende os enfermos, Senhor Jesus, e concede descanso aos que se encontram fatigados, abençoa os que se encontram à morte, alivia os que sofrem, consola os aflitos, defende os que se alegram, tudo isso por amor do teu nome. Amém.

Coleta para a Quinta-feira Santa

Senhor Jesus Cristo, que estendeste teus braços de amor sobre a dura madeira da cruz, de modo que todos pudessem se aproximar de teu abraço salvador; veste-nos de teu Espírito, de modo que, estendendo nossas mãos em amor, possamos trazer aqueles que não te conhecem que te conheçam e te amem, para a honra de teu nome. Amém.

Uma oração pelos enfermos

Ó Deus, força dos fracos e conforto dos que sofrem, atende com misericórdia as nossas orações, e concede ao teu servo N. o auxílio do teu poder, de modo que sua enfermidade se torne em saúde, e nosso pesar em alegrias, por Cristo Jesus. Amém.

Nós, na tradição reformada, ainda pelejaríamos por mais quatrocentos anos com a linguagem da oração, criando padrões de intercessão que, se não por outra coisa, se tornariam memoráveis pela sua prolixidade, antes de retornarmos para o estilo do LOC como inspiração para uma nova geração de publicações de auxílio para o culto.

A centralidade da Sagrada Comunhão

De caráter central para o LOC, embora nem sempre para a prática de muitos anglicanos, foi o entendimento do Culto Dominical Central fundado tanto na Palavra quanto no Sacramento. O Livro de 1549 oferecia uma síntese do padrão romano, com os ofícios diários de oração matinal e vespertina, coroados pela Eucaristia no Dia do Senhor. Ao longo dos séculos seguintes, muitas igrejas não-romanas adaptaram suas práticas para se amoldarem à compreensão da época.
Cristãos da tradição reformada ainda celebram a Ceia do Senhor em ciclos trimestrais, mensais ou semanais, dependendo dos costumes e tradições regionais e locais das congregações. O LOC tem servido como um lembrete constante da intenção dos reformadores, e como um cutucão perpétuo para aqueles que elaboram os manuais de culto a cada nova geração.

E daí?

Um aniversário dessa magnitude é importante para os cristãos atuais, pois serve para nos lembrar de que as lutas que encaramos como oficiantes de culto em 1999 não são nada novas. As reformas da igreja que abalaram a Europa do século XVI não foram, de modo algum, únicas ou surpreendentes. Uma retomada do ensino e da pesquisa passaram a questinoar muita da tradição que evoluiu com a Igreja. Enquanto isso, o poder das Escrituras estava sendo redescoberto por aqueles na Igreja que não estavam contentes em ver os trapos da condição humana desacreditarem a Palavra de Deus. A Reforma era inevitável.

A Reforma da igreja, que continua a abalar a América do Norte nestes últimos dias do século XX não é única ou surpreendente, pelos mesmos motivos. A mudança continua inevitável.

Em tempos de reforma, aqueles que guiam a Igreja têm muito a aprender e a relembrar. O LOC de 1549 reuniu orações e salmos, litanias e ordens de culto de uma vasta gama de fontes separadas, organizando-as para que fossem úteis nos cultos público e doméstico, e traduzindo textos históricos do latim para a língua do povo. Se a publicação do LOC não tivesse realizado nada mais, isso mesmo já seria digno de nota. Porém, no transcurso do reinado de um infante-rei e em uma era de profunda reestruturação religiosa, o LOC ancorou a reforma da Igreja da Inglaterra dentro da tradição da Igreja histórica. Graças a Deus por esses 450 anos de oração comum, e pelas graças que ainda não conhecemos.

As Coletas de Thomas Cranmer

Para aqueles que se interessam por mais da contribuição do LOC de 1549 de Thomas Cranmer, confiram The collects of Thomas Cranmer, um novo livro de Frederick Barbee e Paul F. M. Zahl. As coletas se encontram na linguagem original, e cada uma é seguida de um comentário sobre seu contexto histórico e uma meditação voltada aos cristãos contemporâneos.

Excerto

ORAÇÕES PARA O ADVENTO, NATAL E EPIFANIA DO LIVRO DE ORAÇÃO COMUM

As seguintes coletas são da edição de 1979 do Livro de Oração Comum da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. (Sobre essa forma de oração que conclui, ou "coleta" as orações individuais do povo, confira Reformed Worship n. 52, p 44).

A edição de 1979 do LOC inclui ordens de culto e orações tanto na linguagem histórica quanto na contemporânea; um dos seguintes exemplos está na forma histórica, os demais, na contemporânea.

Primeiro Domingo do Advento

Deus Todo-Poderoso, concede-nos a graça de lançar fora as obras das trevas, e de revestir-nos da armadura de luz agora, neste tempo da vida mortal em que teu Filho Jesus Cristo veio para visitar-nos em grande humildade; concede-nos que, no último dia, quando ele vier novamente em sua majestosa glória para julgar os vivos e os mortos, nós possamos ascender à vida imortal; por meio dele, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

Segundo Domingo do Advento

Deus de misericórdia, que enviaste teus arautos, os profetas, para pregar o arrependimento e preparar o caminho para nossa salvação; concede-nos a graça de ouvir seus alertas e abandonar nossos pecados, de modo que possamos reeber com alegria a vinda de Jesus Cristo, nosso Redentor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

Terceiro Domingo do Advento

Manifesta teu poder, ó Senhor, e com grande força vem entre nós; e, porquanto somos amargamente abalados por nossos pecados, concede que tua abundante graça e misericórdia prontamente nos socorra e nos salve; por Cristo Jesus, Nosso Senhor, a quem, contigo e o Espírito Santo, sejam toda honra e toda glória, hoje e para sempre. Amém.

Quarto Domingo do Advento

Purifica nossas consciências, ó Deus Todo-Poderoso, pela tua visitação diária, de modo que teu Filho Jesus Cristo, em sua vinda, encontre em nós uma mansão para ele preparada, o qual vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.
Nós Vos imploramos, ó Deus Todo-Poderoso, que purifiqueis nossas consciências por Vossa visitação diária, de modo que, quando Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, vier em Sua glória, Ele encontre preparada para Si uma mansão; por meio deste mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor, que vive e reina convosco na unidade do Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

A Natividade de Nosso Senhor: Noite de Natal

Ó Deus, que fizeste esta santa noite resplandecer com o brilho da verdadeira Luz; concede que nós, que conhecemos o mistério desta Luz na terra, possamos também gozá-lo perfeitamente no céu, onde, contigo e o Espírito Santo, ele vive e reina, um só Deus, em glória sempiterna. Amém.

Primeiro Domingo após o Natal

Deus Todo-Poderoso, que espargiste sobre nós a nova luz de teu Verbo encarnado; concede que esta luz, alimentada em nossos corações, possa brilhar em nossas vidas; por Jesus Cristo, Nosso Senhor, o qual vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

O Santo Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: 1.º de janeiro

Pai Eterno, que deste ao teu Filho encarnado o nome santo de Jesus para sinal da nossa salvação; planta em cada coração o amor a ele, que é o Salvador do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, em glória sempiterna. Amém.

Segundo Domingo após o Natal

Ó Deus, que de forma maravilhosa criaste, e ainda mais maravilhosamente restauraste a dignidade da natureza humana; concede que partilhemos da natureza divina daquele que se humilhou para partilhar de nossa humanidade, teu Filho Jesus Cristo, que vive e reina contigo na unidade do Espírito Santo, um só Deus, para sempre e sempre. Amém.

A Epifania: 6 de janeiro

Ó Deus, que pela condução de uma estrela manifestaste teu único Filho aos povos da terra; guia-nos a nós, que conhecemos a ti pela fé, à tua presença, onde possamos ver tua glória face a face. Por Cristo Jesus, Nosso Senhor, o qual vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.
                                                                                      
* Paul Detterman é conferencista, músico eclesiástico e Ministro da Palavra e Sacramentos da Presbyterian Church (USA). Ele trabalha como diretor executivo da Presbyterians for Renewal, um ministério nacional sediado em Louisville, Kentucky.