quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

350 anos do Livro de Oração Comum - LOC



Tabela Cronológica (Provisória) do LOC
Ven. Arc. Rev. Carlos Alberto (*)



Durante todo ano de 2012 a Comunhão Anglicana estará promovendo celebrações referentes aos 350 anos da edição do Livro de Oração Comum (1662-2012), e, inspirado no lema diocesano para o ano: “2012: Ano da Liturgia (350 anos do Livro de Oração Comum – LOC): – Conceitos eternos, Palavras históricas, Relevância atual” (Êxodo 35.20-21), desejei, em meu coração, estabelecer uma linha histórica que pudesse nos ajudar em pesquisas sobre o LOC. Tem nome “provisório”, pois entendo que esta tabela poderá ser melhorada, num trabalho ‘em equipe’. Ela consta de datas importantes das edições dos LOCs e eventos paralelos que considerei significativos.



O caminho geográfico seguido foi: Inglaterra – a vinda do LOC para os Estados Unidos –  e a vinda do LOC para o Brasil, através dos Estados Unidos: 


1085 O Missal de Uso do Rito de Sarum.

1534 Ato de Supremacia de Henrique VIII.

1536 Os Dez Artigos de Religião.

1539 Os Seis Artigos de Religião.

1540 A "Grande Bíblia", "versão autorizada" por Henrique VIII, elaborada por Myles Covardale.

1543 Comitê de Convocação para revisar os livros de serviços religiosos.

1543 “A Necessária Doutrina e Erudição Para Qualquer Homem Cristão", publicado.

1544 Primeira Litania em Inglês preparada por Cranmer e determinada para uso nas igrejas.

1545 A Cartilha de Henrique VIII.

1547 31 de janeiro. Ascensão do Rei Eduardo VI.

1548 08 de março. Ordem Inglesa da Comunhão adicionado à missa em latim.

1549 21 de janeiro. O Livro de Oração Comum: Primeiro Livro de Eduardo VI, adotado.

1550 Preparo e publicação do Ordinal Inglês.

1552 15 de abril. O Livro de Oração Comum: segundo livro de Eduardo VI com aprovação real.

1552 Os Quarenta e Dois Artigos de Religião de Eduardo VI.

1558 17 de novembro. Sobe ao trono a Rainha Elizabeth I.

1558 Ato de Supremacia da Rainha Elizabeth I.

1559 Os Onze Artigos de Religião.

1559 28 de abril. O Livro de Oração Comum recebe aprovação real de Elizabeth I.

1562 Os Trinta e Nove Artigos de Religião.

1603 07 de maio. Ascensão de James I.

1604 A Conferência de Hampton Court (Petição dos Mil: 1000 ministros puritanos pedem mudanças litúrgicas ao Rei).

1626 2 de fevereiro de. Ascensão de Charles I.

1637 O O Livro de Ordem Comum Escocês (após unir as duas coroas: Inglesa e Escocesa).

1644 O Diretório para o Culto Público de Deus (Diretório de Westminster) substitui o LOC elizabetano.

1649 30 de janeiro de. Decaptação de Charles I.

1660 Ascensão de Charles II.

1660 O uso do Livro de Oração Comum é restaurado.

1662 19 de maio. Ato da Uniformidade para o atual LOC Inglês.

1666 Ato da Uniformidade Irlandês.

1685 06 de fevereiro. Morte de Charles II.

1685 23 de abril. Ascensão de James II.

1688 Revolução Gloriosa, deposição de James II e ascensão de William III (Guilherme de Orange) e Mary II.

1701 16 de setembro. Morte de James II.

1786 O "Livro Proposta" (LOC) da Igreja Episcopal Protestante dos Estados Unidos da América.

1789 A primeira das oito edições normativas do LOC conforme o uso da Igreja Episcopal Protestante dos EUA.

1810 Assinatura do Tratado de Comércio e Navegação entre Portugal/Brasil e a Inglaterra.

1819 Construção da Primeira Capela Anglicana do Brasil (Cidade do Rio de Janeiro).

1822 26 de maio. Inauração da Christ Curch (Capela Anglicana – Rio de Janeiro).

1823 Estabelecimento da Holy Trinity Church (Capela Anglicana – Recife).

1861 Tradução para o português do Livro de Oração Comum (USA) por Richard Holden.

1893 Igreja Protestante Episcopal no Sul dos Estados Unidos do Brasil.

1928 Proposta, não aprovada (pelo Parlamento), de alteração do LOC Inglês.

1928 Novo LOC da Protestant Episcopal Church in USA.

1930 Primeiro LOC brasileiro (trabalho sob a supervisão do Bispo Thomas).

1950 Última edição do LOC brasileiro de 1930, com revisão ortográfica.

1983 Sínodo Geral da Igreja Episcopal do Brasil aprova o LOC.

2008 Edição do Livro de Oração Comum Brasileiro, Igreja Anglicana-Diocese do Recife.





* Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes, ofa, é Presbítero da Diocese do Recife; Pároco da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade, em Copacabana, Rio de Janeiro; Venerável Arcediago Sul-Sudeste; Frei da Ordem Franciscana Anglicana (OFA).



 


domingo, 25 de dezembro de 2011

Minha mensagem de Natal!  

Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes*



Queridos irmãos,
Queridas irmãs,


Paz e Bem.


Gosto da festividade do Natal. Não gosto de quem sob pretexto de ser “espiritual”, critica a festa natalina. Gosto da festa do Natal e gosto do espírito do Natal. Gosto das luzes, dos presentes, das deliciosas comidas. Gosto de ver as pessoas pensando em solidariedade, nas crianças pobres, na mesa das famílias pobres. Nunca pensam nisso durante o ano todo e, quando chega o Natal, ao menos pensam… mas sempre tem um estraga-prazer dizendo que não devemos esquecer a mensagem do Natal: o nascimento de Jesus Cristo. Como se festejar, alegar-se, partilhar, lembrar da dor de uma pessoa, não esquecer as crianças pobres, fosse alguma coisa contrária a tudo o que ensinou Jesus Cristo.

Na verdade a história do primeiro Natal, a tal do nascimento de Jesus, é uma mistura de tristeza e ternura. A cena é triste porque eles foram rejeitados e não havia lugar para eles. É triste porque um jovem esposo vê chegar a hora derradeira de sua esposa adolescente e nada pode fazer senão invadir um estábulo. É triste o desamparo daquele homem e de sua pobre esposa. É triste porque o abandono e o desamparo sempre hão de causar comoção e tristeza. A jovem Mãe nada tem: rasga trapos e envolve seu rebento. O pobre Pai improvisa um berço com o coxo do estábulo.

Entretanto, é terna porque lá está, apesar de tudo, a sagrada família reunida: José, Maria e o Menino. É terna porque lá está a solidariedade manifesta pelos primeiros visitantes: os pastores do campo. É terna porque lá estão pessoas dando presentes a um Menino que nasceu no estábulo e seu berço era um coxo. É terna porque o canto dos Santos Anjos toma a solidão da noite, embelezando com arte a pobre cena do presépio. É terna por causa da luz da Estrela Guia, iluminando as trevas da noite com a beleza de seu brilho. 

Fico pensando na cena terna e triste, e entendo que os pastores, os magos, os bichos do estábulo são os que dizem a verdadeira mensagem natalina. O Natal deve ser sim de solidariedade, deve ser sim um dia de para lembrar dos pobres, das crianças, de embelezar as cenas triste da vida com cânticos, com arte, com luzes, com uma visita amiga, com presentes.

Eu gosto do Natal. Gosto do espírito do Natal. Gosto da festa do Natal, pois eu amo de todo o coração, de toda a alma, com todas as forças e de todo o meu entendimento o Menino que nasceu. Eu entendi a sua mensagem quando nasceu e viveu aquela cena terna e triste do primeiro Natal, na solidariedade, em família, sendo o Grande Presente de Deus ao mundo.


Feliz Natal a todos!
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* Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes, ofa, é Presbítero da Diocese do Recife; Pároco da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade, em Copacabana, Rio de Janeiro; Venerável Arcediago Sul-Sudeste; Frei da Ordem Franciscana Anglicana (OFA).

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011


Febre anglicana entre os jovens nos EUA


Durante décadas, os jovens têm ido a igrejas “amigáveis” (seeker-friendly) que tinham cultos culturalmente relevantes e um ambiente casual. Agora, uma nova denominação que enfatiza tradição,  sacramentos e práticas antigas está atraindo muitos jovens.

A Igreja Anglicana na América do Norte (ACNA) começou oficialmente em 2009 com centenas de congregações que terminaram os laços com a Igreja Episcopal dos USA. Em Albany Park, Chicago, um grupo de universitários e graduados começaram uma nova igreja da ACNA. Os cultos acontecem nas tardes de domingo, em um prédio (alugado) da igreja que é perto de vários campus universitários.

Nova Denominação, o Culto Antigo

Enquanto os membros da congregação se vestem casualmente, o culto tem um estilo mais formal e litúrgico. Os alunos que conversaram com a CBN News, disseram que é isso exatamente o que eles gostam. “Eu amo a ênfase na Escritura. Adoro que lemos quatro textos bíblicos todos os domingos, assim realmente recebemos a Bíblia a cada domingo”, disse Andie Roeder, que estuda no Moody Bible Institute. “E eu amo o jeito que ele é interativo, tem uma chamada e uma resposta, e você ora constantemente,” disse ela. O diácono, Mike Niebauer, que supervisiona tanto a congregação de Albany Park, como outra na Northwestern University em Evanston, disse que a liturgia constrói comunidade e ajuda os alunos que muitas vezes desejam estar conectados. “Eu acho que muitas pessoas, especialmente jovens, se sentem como se eles não estivessem conectados em lugar nenhum, não enraizados em nenhuma coisa, principalmente as pessoas que mudam de lugar,” disse. “Então, a idéia de que a igreja tem raízes e sua adoração tem ao redor de 2.000 anos, acho que uma coisa que atrai muito a eles,” disse Niebauer.

Febre Anglicana

Arcebispo Robert Duncan apelidou o movimento como “Febre Anglicana” em um discurso no Congresso Lausanne no ano passado. CBN News falou com líderes Anglicanos que estão testemunhando nas comunidades universitárias surgidas da Flórida a Massachusetts e além. Uma possível razão para o crescimento é a autenticidade. Muitas congregações na nova denominação entregaram os edifícios e propriedades, a fim de romper com a Igreja Episcopal e sua teologia cada vez mais liberal. Um dos piores casos ocorreu em Binghamton, NY, onde a Igreja Episcopal expulsou a congregação Bom Pastor e, em seguida, vendeu sua propriedade para uma mesquita. Reitor Matt Kennedy descobriu o novo proprietário, enquanto ele estava dirigindo pela propriedade e viu um guindaste derrubar o campanário. “Foi muito triste”, disse ele. “Porque é um lugar onde o evangelho tinha sido pregado geração após geração.” “As pessoas têm vindo a conhecer Jesus Cristo, as pessoas foram trazidas das trevas para a luz e, agora, ele foi vendido a um grupo que promove a escuridão”, acrescentou Kennedy.

Uma abordagem diferente

Enquanto a luta pelas propriedades é ainda uma realidade para muitas congregações, a liderança de ACNA não quer se concentrar no drama do Forum. Em vez disso, o grupo tem uma visão ambiciosa de plantar 2,000 novas igrejas com o objetivo de dobrar de tamanho em cinco anos. A estratégia envolve uma combinação de tradição anglicana com modelos de plantação de igreja moderna a partir de África. “Eles estão realmente seguindo algumas das igrejas anglicanas do sul global em como estão plantando igrejas usando uma liderança menos treinada”, explicou Lon Allison, especialista em evangelismo e Diretor do Centro de Billy Graham no Wheaton College. Isto é exatamente o que está acontecendo em Chicago. Rev. William Beasley tem supervisionado o plantio de 9 igrejas anglicanas em torno dos campus universitários. Ele disse que espera um crescimento continuado com os alunos. “Acho que estamos realmente apenas no começo”, disse ele. “Estamos no começo de alguma coisa que está destinada a crescer exponencialmente.”

O que atrai os jovens para a Igreja Anglicana é o que muitos não esperariam. São os sacramentos, a Santa Comunhão semanal e as orações tradicionais e o fato de que toda a congregação participa de leitura. “Eu gosto do fato de que é algo que os cristãos ao redor do mundo estão dizendo, e que vem dizendo há muito tempo”, disse Josh Melby, estudante de Wheaton College. “Eu cresci em uma igreja batista toda a minha vida”, diz Michelle Nelson. “Então, chegando a uma igreja anglicana, onde há liturgia e sacramentos a cada semana, eu aprecio a tradição.”

Avançando com Fé

Os estudantes também apreciam as conexões globais da igreja. A ACNA faz parte da Comunhão Anglicana e tem desfrutado de uma relação estreita com os Anglicanos Ortodoxos na África e América do Sul.

Outra área de crescimento para a nova denominação está na comunidade latina. CBN News visitou um culto de adoração em Franklin Park, Chicago. Os latinos apreciam o estilo de adoração Anglicana, sua reverência e sua comunidade. Tudo isto são sinais encorajadores para uma denominação jovem determinada a avançar o Evangelho e multiplicar a Igreja.
 
Fonte: CBN NEWS, 16 de dezembro de 2011.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Visita do bispo de Roma a Erfurt: Um passinho pra frente no diálogo ecumênico?


Bento XVI em Friburgo, Alemanha, onde pregou e celebrou a Eucaristia

O bispo de Roma, Bento XVI, em sua recente visita a Erfurt, na Alemanha, deixou clara a sua simpatia por Lutero. Se o que está por trás de seus  gestos e palavras é apenas um formalismo diplomático (não nos esqueçamos de que o pontífice, além de cabeça da Igreja Romana, é também chefe de Estado), ou uma sincera admiração pelo reformador alemão, não sabemos. Fato é que, por ocasião de sua passada pela cidade onde fora ordanado sacerdote Martinho Lutero, e em seu contato com líderes da Igreja Luterana da Alemanha, Bento XVI, andou emitindo elogios em série ao gênio religioso de Lutero, ao mesmo tempo que recomendou ao povo católico-romano a imitação de seu fervor espiritual e  de sua perspicácia teológica. Vejamos, a seguir, algumas das declarações mais importantes do bispo de Roma a respeito do célebre reformador alemão:

Como Bispo de Roma é para mim um um momento  encontrar-me no antigo convento agostiniano de Erfurt com os representantes do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha. Aqui, Lutero estudou teologia. Aqui em 1507, foi ordenado sacerdote. Contra os desejos de seu pai, não continuou os estudos em Direito, mas estudou teologia e se encaminhou ao sacerdócio na Ordem de Santo Agostinho. Neste caminho, não lhe interessava isso ou aquilo. O que lhe tirava a paz era a questão de Deus, que foi a paixão profunda e o centro de sua vida e seu caminho. [ênfase nossa]
                                                   Fonte: http://www.zenit.org/article-40469?l=spanish
Lutero, na Dieta de Worms - 1521 A.D.

"Foi um erro da idade confessional haver visto maiormente aquilo que nos separa, e haver percebido o modo essencial do que temos em comum em grandes pautas da Sagrada Escritura e nas profissões de fé do cristianismo antigo. Este tem sido o grande progresso ecumênico das últimas décadas: nos demos conta dessa comunhão e, no orar e cantar , na tarefa comum da ética cristã para o mundo, no testemunho comum ao Senhor Jesus Cristo neste mundo, reconhecemos esta comunhão como nosso fundamento imperecível." [ênfase nossa].
           Fonte:http://revistaecclesia.com/index.php?option=com_content&task=view&id=29015&Itemid=323-

"Esse Deus tem uma face, e ele falou conosco. Ele se tornou um de nós no homem Jesus Cristo - que é tanto verdadeiro Deus quanto verdadeiro Homem. O pensamento de Lutero, sua completa espiritualidade, foi perfeitamente Cristocêntrico: "O que promove a causa de Cristo" foi para Lutero o critério hermenêutico decisivo para a exegese da Sagrada Escritura."
               Fonte: http://roberto-cavalcanti.blogspot.com/2011/10/bento-xvi-louva-lutero-em-discurso.html



A seguir, tratando da mesma questão, temos um texto de caráter ecumênico bastante significativo, de autoria do arcebispo romano de Londrina, Dom Orlando Brandes:

 
O Papa e Lutero
 

O Papa Bento XVI iniciou na última quinta-feira a sua terceira viagem apostólica à Alemanha. Dessa vez o centro da visita é a cidade de Erfurt à qual Martim Lutero esteve muito vinculado.

Na ocasião a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial irão assinar uma Declaração conjunta em comemoração aos quinhentos anos da publicação das 95 teses de Lutero. O foco dessa viagem do Papa é ecumênico. Em 1983 a Comissão Católico-Luterana publicou uma Declaração Ecumênica sobre a pessoa e a obra de Lutero que vamos agora conhecer. São seis pontos de reflexão, a saber:

1. Lutero em seus escritos e pregação, expressa uma profunda experiência de Deus. Sua maior descoberta é que “o justo vive de fé (Rm 1,17) e da misericórdia de Deus. O apelo luterano à reforma da Igreja é um convite á conversão, à escuta do Evangelho do qual a Igreja tinha se afastado.

2. Lutero nunca teve a intenção de fundar uma nova Igreja nem queria separar-se da Igreja Católica. Foram as circunstâncias, que atropelaram os conflitos e provocaram a ruptura. As idéias de Lutero foram recebendo ao longo da história numerosas distorções e simplificações abusivas, tanto no catolicismo como no protestantismo.

3. Hoje, percebemos um intenso trabalho de revisão das idéias e da pessoa de Lutero. Não se trata de “catolicizar Lutero”, mas de compreender seu ideal de reformador. “Bem falou o cardeal Willebrands, diz a Declaração, quando afirma: Lutero procurou viver honestamente e com abnegação a mensagem do Evangelho”.
 
4. Como teólogo, pregador, pastor, compositor de hinos e homem de oração, Lutero apela à primazia da Palavra de Deus na vida, ensino e serviço da Igreja. Prega a confiança absoluta na misericórdia divina, compreende a graça como uma relação pessoal entre Deus e o homem.

5. Tanto luteranos como católicos são hoje conscientes dos limites da pessoa e das obras de Lutero: seus ataques polêmicos, seus escritos contra judeus, sua consciência apocalíptica em relação ao papado, ao movimento anabatista e à guerra dos camponeses e outras condenações inaceitáveis.

6. Em síntese, afirma a Declaração, citando novamente o cardeal Willebrands: “Lutero pode ser nosso mestre comum na afirmação de que Deus deve ter o Primeiro lugar em nossa vida e que nossa resposta humana deve ser a confiança absoluta e a adoração de Deus’’. A quem reza e medita é revelada pelo Espírito Santo a misericórdia de Deus”, dizia Lutero.

Portanto, está superada aquela visão de que Lutero era um herói para uns e herege para outros. Uns fizeram dele um santo, outros um demônio rebelde. Estão acabando as lendas e se impõe hoje um "respeito critico".

“Não se trata de uma ‘‘catolização de Lutero”, mas de uma compreensão histórica mais justa, sobre sua pessoa e sua obra que favorece o ecumenismo. A visita apostólica de Bento 16 a Erfurt quer ser um estimulo à unidade dos cristãos.

A visita apostólica de Bento XVI a Erfurt quer ser um estimulo à unidade dos cristãos. Desde o Concilio Vaticano II o ecumenismo é prioridade. Vamos celebrar os 50 anos do Concílio, estamos dando passos muito lentos em relação á unidade dos Cristãos. Viver o ecumenismo é colaborar com a união dos povos. Se formos unidos o mundo crerá
                       

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina - ICAR


domingo, 6 de novembro de 2011

31 de Outubro: Dia da Reforma

 

Ven. Arc. Rev. Carlos Alberto (*)



Sendo hoje o dia da Reforma, cabe perguntar: Quando e onde começa o anglicanismo? Qual a relação entre a Igreja da Inglaterra e o anglicanismo? Quando desejamos falar sobre a Reforma do Séc. XVI não se pode deixar de levantar estas questões. Podemos destacar três fases diferentes no cristianismo que se instalou nas chamadas Ilhas Britânicas, conforme muito bem já definiu o nosso amado Bispo em seu livro: 1) Celta; 2) Romana; 3) Reformada. Assim, respondendo às perguntas, diríamos que o anglicanismo nasce da terceira fase da Igreja da Inglaterra, espalhando-se pelo mundo, sob a influência da Reforma.

Sem entender as fases diferentes da Igreja da Inglaterra, torna-se difícil saber o que é anglicanismo ou “Comunhão Anglicana”. Vejamos as suas diferentes fases: Celta, Romana e Reformada.

A Celta. Por causa da perseguição ao cristianismo na Gália (hoje, França), cristãos daquela região refugiaram-se, a partir de 77 d.C., na Britânia (Ilhas Britânicas). Estes, mais os funcionários e comerciantes do Império Romano que abraçaram o cristianismo, levaram a fé àquela região. Os nativos que acolheram a fé na Britânia cristã foram os celtas, habitantes do norte daquela região (hoje, Irlanda, Escócia, País de Gales). Eles formaram, por sete séculos, uma Igreja Cristã independente de Roma. Com a invasão bárbara o cristianismo foi varrido da região, refugiando-se no norte. Em 597 d.C., Agostinho e mais 40 monges são enviados por Roma à região centro-sul da Ilha, com a finalidade de evangelizá-la. Estabelecidos em Cantuária, passaram a propagar a fé cristã. Por isso, mais tarde, sagrando-se Bispo de Cantuária, ficou aquele missionário conhecido como Agostinho de Cantuária. Converteram-se mais de dez mil pessoas e Agostinho procurou unir a Igreja Celta à Diocese de Cantuária, respeitando os costumes estabelecidos na região. 

Antigo santuário celta, Irlanda

A Romana. Após de grande e longa resistência, a Igreja Celta aceita submeter-se à autoridade do Bispo de Roma, em 667 d.C., ano Concílio de Whibty, formando-se a Igreja sob a autoridade de dois bispos: o de Cantuária e o de York, mantendo a sua identidade celta. Por questões geográficas e políticas, apesar da submissão à Roma, pouca influência exercia o Papa sobre a Igreja Inglesa. Surge, no Séc. XVI, com John Wycclif, grande crítica ao romanismo, divulgação do Evangelho na língua inglesa, a criação de uma ordem de irmãos leigos (os lolardos) que, perseguida, divulga princípios evangélicos, mantendo-se ativa até a Reforma.


Sto.Agostinho de Cantuária batizando o rei Ethelbert
A Reformada. Professores de Oxford (sob influência de Wycclif) e de Cambridge (W. Tyndale, R. Barnes, T. Cranmer e M. Coverdale) levantaram críticas semelhantes a dos lolardos, sob influência do pensamento de Lutero, questionando a Igreja, seu clero e o Papado. Um nacionalismo crescente e interesses políticos das dinastias reais (Tudor e Stuart) ajudaram a fomentar a difícil, mas crescente, Reforma da Igreja. Assim, em diferentes momentos, seguiu a Reforma com: a) o rompimento com a Igreja Romana e o Bispo de Roma (1534); b) o breve reinado de Eduardo VI com o aprofundamento do protestantismo e os Artigos de Fé da Igreja (de teologia reformada); c) a reforma de Elizabeth, que rompeu com Roma (após Maria Tudor, “A Sanguinária”, ter feito um retorno ao catolicismo) e estabeleceu princípios fundamentais: O Livro de Oração Comum (LOC) e os Trinta e Nove Artigos de Fé; d) após idas e vindas entre reforma e retorno ao catolicismo, em 1688, na “Revolução Gloriosa”, liderada por Guilherme de Orange (reformado holandês), implanta-se o parlamentarismo na Inglaterra, pacificando-se muitas questões e com retorno aos princípios protestantes elizabetanos (LOC e 39 Artigos).

Arcebispo Thomas Cranmer
Os dois principais pensadores da Reforma Inglesa foram o Arcebispo de Cantuária e mártir Thomas Cranmer (queimado vivo por ordem de Maria Tudor), compilador do LOC, bem como o teólogo Richard Hooker. Assim surge a Igreja da Inglaterra: independente de Roma, de doutrina reformada, mantendo algumas tradições católicas em seu governo e liturgia, como uma “via-média” entre Roma e Genebra, entre catolicismo e puritanismo. Nota-se que a Igreja da Inglaterra viveu em continuidade com a Igreja dos primeiros séculos, passando por momentos diferenciados. Disso resulta que as diferentes igrejas anglicanas espalhadas pelo mundo não constituem nem cultivam uma identidade denominacional separada, mas uma verdadeira “comunhão”. A Reforma da Igreja está, assim, em linha de continuidade com uma Igreja que remonta ao Séc. I da era cristã, como um pêndulo que se moveu entre catolicismo e protestantismo, definindo-se como “via-média” entre estes dois pólos.

Conforme a Inglaterra expande-se comercialmente, dando-se destaque o Séc. XVII e o Séc. XIX, a Igreja passa a enviar ministros a acompanhar suas expedições e, mais tarde, suas colônias. Na medida que estas igrejas locais vão tornando-se autônoma, temos o surgimento do que se denominou Anglicanismo.

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* Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes, ofa, é Presbítero da Diocese do Recife; Pároco da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade, em Copacabana, Rio de Janeiro; Venerável Arcediago Sul-Sudeste; Frei da Ordem Franciscana Anglicana (OFA).

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mensagem Episcopal do Dia da Reforma Protestante

Contribuição Anglicana
Para uma Reforma Sempre se Reformando


Amados irmãos e irmãs,

O nosso Deus é Soberano sobre o Universo, a História, nossas vidas e seu Povo da Nova e Eterna Aliança: a sua Igreja. O Espírito Santo que foi derramado no Dia do Pentecostes dela nunca se afastou, a despeito das fraquezas e pecados dos seus dirigentes e fiéis, dos desvios, erros e superstições de todas as épocas e lugares, preservando um remanescente e reavivando as vidas e ministérios. A crença em uma “apostasia geral da Igreja” deve ser firmemente rejeitada como um pecado contra o Espírito Santo e uma incorreção histórica. A Igreja tem uma importante nova inflexão qualitativa, de reforma e de obediência, com Lutero, Calvino, Cranmer, e outros, não um recomeço.

Devemos sempre agradecer a Deus pela bendita Reforma Protestante do Século XVI, da qual somos herdeiros, e que temos a responsabilidade de preservar sempre e atualizar sempre. Não podemos nos esquecer dos seus postulados e dos seus feitos, nem promover postulados e feitos que a neguem e maculem. O lugar central das Sagradas Escrituras como fonte de doutrina e de ética, e a salvação pela Graça de Deus mediante a fé em nosso Senhor Jesus Cristo é uma verdade central, insubstituível e inegociável.

Celebremos, pois, essa data, com memória, com avaliação crítica e com espírito construtivo e comprometido.

Que contribuição – com humildade, mas sem falsa modéstia – poderia o Anglicanismo histórico e bíblico dar ao atual cenário confuso, fragmentado e exótico do Protestantismo Brasileiro?

  1. Uma Valorização da História


      Diante de um presentismo que despreza, agressivamente, dois mil anos de trajetória do Povo de Deus, seu legado e suas experiências, e diante, por outro lado, de um tradicionalismo de formas, que engessam e imobilizam, afirmemos o valor do que foi construído pela Igreja de Jesus Cristo em seus vinte séculos de história, no Oriente e no Ocidente, como base sólida para construirmos o presente. Nossa criatividade quanto a métodos e ênfases nunca poderão se dar pelo desprezo do conteúdo contido nos Credos, nas Confissões Reformadas e nos capítulos positivos da nossa História.
                
      2. Uma Valorização da Compreensividade


Vivemos em um contexto protestante marcado pelo ódio, pelos conflitos, pelas desavenças, pelos projetos pessoais e pelos cismas dolorosos, pecaminosos, intermináveis, pelo sectarismo, pelo antiintelectualismo, pelo moralismo-legalista. Falta espírito desarmado, espírito de grandeza, de tolerância, de diálogo, de discernimento entre os aspectos essenciais inegociáveis e os aspectos acidentais aceitáveis, quando a unidade não é sinônimo de uniformidade. Com seu histórico de convivência de correntes credais internas, sua compreensividade ou inclusividade, devemos contribuir para a paz e a unidade do Corpo de Cristo no Brasil.

       3. Uma Valorização de um Saber Maduro


    Diante da estreiteza mental fundamentalista e da ausência de limites e parâmetros mentais dos liberais, o método anglicano de fazer teologia, comprometido com as Sagradas Escrituras, interpretadas à luz da Tradição (consenso histórico dos fiéis), da Razão (Senso Comum + Sistematizações Filosóficas e Teológicas) e da Experiência (Pessoal + Comunitária), pode, sem dúvida, promover um saber maduro e uma ortodoxia com face humana, em uma Igreja também comunidade terapêutica e não patogênica. Crer é também pensar, e nós temos a mente de Cristo, conhecendo a Sua vontade pela renovação do nosso entendimento.

   4. Uma Valorização da Estética

Razões históricas de proibição legal, a carência de recursos financeiros, uma identidade por antagonismo (ao romanismo) e a influência de aspectos da Reforma Radical, tornaram amplamente triunfante no Brasil um protestantismo de cunho iconoclasta, confundindo arte sacra com idolatria, empobrecendo a estética como canal de adoração e de testemunho, na arquitetura, na decoração, nas cerimônias, nos ritos e nos símbolos. Mais grave hoje, quando o Secularismo quer varrer os símbolos cristãos, e o Islã quer afirmar os seus. Uma estética religiosa em harmonia com a Revelação tem sido um apanágio do Anglicanismo. Um lugar especial deve ser dado ao Livro de Oração Comum (LOC). Compartilhando uma valorização da estética estaremos vinculando o Protestantismo Brasileiro à História da Arte Cristã; estaremos liberando a sensibilidade ao belo que existe dentro de cada fiel; estaremos missionando com os símbolos, tornando a Igreja mais saudável, mais alegre, mais reverente e mais relevante. Inestética (feiura) nunca foi símbolo de santidade.


5. Uma Valorização da Apostolicidade

Nosso compromisso com a fé bíblica e apostólica, que passou pelos Pais Apostólicos, pelos Pais da Igreja, pelos Concílios da Igreja Indivisa, pelos pontos convergentes das Confissões de Fé Reformadas, nos torna promotores de uma vida eclesiástica, com ordem e com decência, firmada em um sacerdócio universal de todos os fiéis, que não nega o sacerdócio especial dos vocacionados, como nos ensinaram os mais antigos. A manutenção da tríplice Ordem: Diáconos, Presbíteros e Bispos, é um tesouro a ser compartilhado, como nos afirma o Quadrilátero de Lambeth, em particular o ministério de unidade, supervisão, e guardião da verdade, do Episcopado Histórico.

Nesse tempo que comemoramos a Reforma, e que estamos dispostos a aprender uns dos outros, não chegamos ao conjunto do Protestantismo de mãos vazias, mas com algo de valor a ser compartilhado, para o enriquecimento e o amadurecimento de todos.
Castelo Forte é o nosso Deus!
Recife (PE), 31 de outubro de 2011,
Anno Domini.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

Fonte: www.dar.org.br

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Ano Litúrgico



Diferente dos calendários cívicos, que celebram e comemoram obras humanas, o Ano Cristão (AC) ou Calendário Litúrgico (CL) celebra o que Deus fez em Cristo, o que continua a fazer hoje, mediante o Espírito Santo, e o que Ele promete fazer no futuro.  Assim, o calendário da Igreja vem nos lembrar, continua e sistematicamente, durante tempo cronológico de um ano, dos feitos redentivos de Deus na história, cujo centro é o kairós - o "tempo oportuno" - identificado na Encarnação do Filho e no Mistério Pascal. No esquema deste calendário, Cristo está no seu devido lugar: no centro da história! Reforça, também, a confiança da Igreja na realidade de que a salvação não vem de nós, e sim da graça de Deus em Cristo Jesus. O AC nos lembra ainda da tensão entre o e do ainda não que marcam a misteriosa epifania do Reino: este está presente, mas ainda virá!  Daí entendemos que o resgate ou mesmo a descoberta do AC - junto com seu uso - abundante em teologia e espiritualidade cristãs, urge com forte apelo, em nossos dias, sobre contexto de boa parte do segmento protestante histórico brasileiro e quase que inteiramente sobre seu ramo evangelical, mais jovem, cujas essência e forma parecem-nos nitidamente mutiladas e esvaziadas de significado e de sentido. De certa forma, poderíamos falar até de uma completa dessacralização da vida, da doutrina e do liturgia em diversas denominações e "comunidades" evangélicas. Não há mais rito nem símbolos, não há mais lugar para a contemplação do mistério, perdeu-se a consciência do divino e a religião cristã agora parece-se mais com uma filosofia hedonista de auto-ajuda: antropocentrista em sua orientação, triunfalista quanto ao seu desígnio e esnobe em relação ao passado.

Visando, então, colaborar com os que buscam retornar a tudo o que era, que é e que sempre será comum à fé cristã histórica - o Projeto Litourgos apresenta, a seguir, a primeira parte de um importantíssimo texto sobre o Ano Cristão ou Calendário Litúrgico, de autoria do Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes. Esperamos que nossos leitores, especialmente clérigos (presbíteros, diáconos), seminaristas, ministros leigos, liturgistas e professores de escola dominical possam aproveitar bem este magnífico estudo sobre Calendário Litúrgico Cristão.

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 O Tempo Cristão: O Calendário Litúrgico - Parte I

Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes*


Para que seja plenamente entendido o significado do Calendário Cristão torna-se fundamental entender o sentido que existe no conceito de “tempo” para qualquer pessoa. O Rev. Prof. James F. White nos ajuda a entender o sentido do tempo para todos nós, ao afirmar:

A maneira como usamos o nosso tempo é uma boa indicação do que consideramos de importância primordial na vida. Sempre poderemos ter certeza de encontrar tempo para aquelas coisas que consideramos mais importantes, embora nem sempre admitamos perante os outros ou perante nós mesmos quais são as nossas prioridades reais. (…) O Tempo fala. Quando o damos a outros, na verdade estamos dando a nós mesmos. Nosso uso do tempo não só mostra o que é importante para nós, mas também indica quem ou o que é mais significativo para a nossa vida. O tempo, então, expõe escancarada e involuntariamente as nossas prioridades. Ele revela o que mais valorizamos pela forma como alocamos esse recurso limitado. (WHITE, J.S. – Introdução ao Culto Cristão – ed. Sinodal, 1997, pg. 38)

Para os cristãos não é diferente. Os cristãos levam o tempo a sério. Pois eles sabem que a história é o lugar da revelação divina. Deus se mostra e se desvela no tempo. O Deus dos cristãos se mostra por meio de eventos históricos. Tempo e lugar são fundamentais na fé bíblica, pois os crentes conhecem a Deus por meios de atos concretos, localizados em um determinado espaço e marcado em um tempo determinado também. Por isso diz Paulo: Na plenitude do tempo, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher e nascido sob a lei (Gl 4.4). Certamente baseado no que disse o próprio Jesus, quando afirmou: O tempo se cumpriu, o Reino de Deus está próximo (Mc 1.15).

Os cristãos iniciaram a organização do seu calandário pelo modo como organizaram, primeiramente, a sua semana. No primeiro dia da semana Deus iniciou a criação fazendo a distinção entre a luz e as trevas (cf. Gn.13-5). Os quatro evangelistas são unânimes em afirmar que na manha do primeiro dia o túmulo foi encontrado vazio. Eis a nova criação, com Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos, vence as traves com a luz da sua ressurreição. Por isso, neste dia, desde os tempos antigos dos Atos dos Apóstolos, os cristãos se reuniam, não mais no sábado, mas no domingo (que, aliás, ganha este nome por causa de Jesus sua ressurreição: Dia do Senhor).

Testemunham este fato, ou seja, de que o dia da reunião dos cristãos para o Culto do Senhor era o primeiro dia da semana, quando Deus, na criação venceu as trevas e quando Jesus Cristo venceu a morte as seguintes afirmativas neotestamentárias: 
No primeiro dia da semana [domingo], estando nós reunidos com o fim de partir o pão [eucaristia], Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso [sermão] até meia-noite. (At. 20.7)
No primeiro dia da semana [domingo], cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando [a coleta]. (I Co. 16.2)
Achei-me em espírito, no dia do Senhor [domingo], e ouvi por trás de mim uma grande voz, dizendo: (…) (Apc. 1.10)
No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana [domingo], Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. (…) E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e O adoraram. (Mt.28.1,9)
Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana [domingo], apareceu primeiro a Maria Madalena (…). Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa [eucaristia?], e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração [sermão?]. (Mc. 16.9,11)

Poderíamos falar ainda do caminho de Emaús, da Aparição para os 10, depois para os 11, tendo Tomé no meio deles, todas estas aparições realizadas no primeiro dia da semana, ou seja, no domingo, quando os cristãos reuniam-se para orações, partir o pão, ouvir a leitura das Escrituras e receber sua instrução. Além disso, se entendermos, com o Novo Testamento, que foi neste dia que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos, inaugurando a Igreja, torna-se ainda mais claro tal fato, como bem comenta o Rev. Dr. H. O. Old:
Olhemos um pouco mais de perto para alguns exemplos de adoração do Dia do Senhor na igreja cristã primitiva. Foi no Dia de Pentecostes, o qüinquagésimo dia, o primeiro dia da semana depois de sete semanas, que o Espírito Santo desceu sobre a igreja e os primeiros crentes foram batizados. Tinha já depois de apenas umas poucas semanas se tornado costumeiro para todos os cristãos se reunirem na manhã do primeiro dia da semana? É muito importante notar que foi no Dia do Senhor que nosso Senhor derramou Seu Espírito Santo. O primeiro dia da semana não foi apenas o dia da ressurreição mas o dia do dom do Espírito também. (OLD, Hughes Oliphant - Worship That is Reformed According to Scripture, de Hughes Oliphant Old, ed. John Press Knox, Atlanta, 1984)

Assim, o Domingo, tornou-se o dia da reunião dos cristãos para orações, ouvir a Escrituras e sua explanação e o partir do pão. Documentos cristãos primitivos e do tempo imediatamente após o período neotestamentário afirmam e confirmam tal prática (Didaquê, Plínio, Justino Mártir, Constituições Apostólicas, Tertuliano, dentre muitos outros). Neste dia os cristãos reuniam-se para celebrar a nova criação de Deus em Cristo Ressuscitado. A vitória da vida sobre a morte. Reuniam-se neste dia porque Jesus assim o quis, ao reunir-se com eles ressuscitado no primeiro dia da semana. Celebravam a Páscoa de Jesus Cristo, a sua passagem da morte à vida e, com isso, a nova vida que receberam de Jesus.

Nota-se a centralidade da Páscoa no domingo, de sorte que cada domingo é evento pascal. Isso nos leva a entender também que a Páscoa anual, tornou-se, de igual modo, um domingo anual. Foi assim que o primeiro evento do Calendário Anual veio a ser o Dia da Páscoa do Senhor Jesus Cristo. A Páscoa, que era o centro do Calendário Anual no judaísmo, torna-se, também o centro do primeiro Calendário Anual da Igreja, seguindo a orientação paulina quando usa esta festa para fazer a sua cristologia: Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa (…). Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado. Por isso celebramos esta festa. (I Co. 5.7-8). Como se pode notar o Dia da Páscoa era observado na primitiva Igreja.

(Continua)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Liturgia Anglicana

 A Liturgia Anglicana pode ser divida em quatro partes: (1) os Ritos Iniciais; (2) a Liturgia da Palavra; (3) a Liturgia Eucarística; e (4) os Ritos Finais. Há partes fixas, que se repetem a cada celebração, e partes móveis, que permitem outros modos de expressão diante de Deus.

1) Os Ritos Iniciais: começam com um cântico (ou Salmo) e a procissão de entrada; o sacerdote ocupa o seu lugar, saúda o povo, pronuncia as palavras de acolhida; conduz o povo à confissão de pecados e pronuncia a absolvição e a Coleta do Dia.

2) A Liturgia da Palavra: consta das leituras na seguinte ordem: Antigo Testamento, Salmo (seguido do Glória Patri se este não foi lido ao início da celebração), Novo Testamento e Evangelho. As leituras são determinadas pelo calendário litúrgico e são extraídas do Lecionário do LOCb (onde se segue a leitura chamada trienal: ano A, B e C, uma para cada domingo do mês). Em seguida, vem o sermão, o credo e as orações do povo.

3) A Liturgia Eucarística: no LOCb prescreve várias orações eucarísticas alternativas, em geral inicia com o ofertório (ofertas voluntárias, em espécie, e oferta dos elementos: Pão e Vinho, trazidos ao altar), Grande Oração Eucarística, Pai Nosso, Fração do Pão, Comunhão, Oração Pós Comunhão.

4) Os Ritos Finais: constam da despedida, da bênção e do envio ao mundo em missão.


RITOS INICIAIS

a) Acolhida: é uma saudação informal onde o oficiante dá as boas-vindas aos demais participantes da celebração. Faz a introdução ao tema, ao assunto do respectivo domingo dentro do Calendário do Ano Cristão. Introduz o povo no ambiente da celebração. Saúda os visitantes;

b) Saudação: trata-se de uma saudação formal e recíproca, onde o oficiante e comunidade saúdam-se. De acordo com rubricas, existem três formas: uma utilizada da Páscoa até o Pentecostes; outras durante a Quaresma e em outras ocasiões penitenciais; e a mais comum, para as outras ocasiões do ano;

c) Coleta pela Pureza: uma das únicas partes da longa série de orações acompanhando cerimônias privadas do celebrante que o Arcebispo Cranmer conservou ao compor o primeiro LOC (1549). Ela provém do Rito de Sarum. É uma coleta exclusivamente anglicana (mas que pode ser encontrada nas orações luteranas para os oficiantes);

d) Gloria in Excelsis: no século VI era usado, assim como o Te Deum Laudamus, na Oração Matutina das igrejas da Gália (469-542). Era um hino matinal sírio, fazendo parte até hoje dos ofícios bizantinos. Nos ofícios romanos foi incorporado nas missas para domingo e dias santos, salvo os das quadras penitenciais. Em geral é utilizado após a absolvição entretanto, conforme a forma utilizada no LOCb pode variar de lugar na liturgia (após a Coleta por Pureza ou nos Ritos Finais, sendo que no tempo do Advento e da Quaresma devem ser omitidos, assim como qualquer cântico de “Glória”);

e) Kyrie: já presente no clamor de Bartimeu, no Evangelho. Quando os cristãos passaram a incluir essa exclamação no ofício, estavam a confessar Jesus como único Senhor e negando a veneração divina a qualquer senhor deste mundo. “Kyrie Eleison” é, na sua origem, um clamor coletivo da comunidade pelas dores do mundo e não um clamor individual das pessoas pelo perdão dos seus pecados. Pode ser cantado como alternativa ao Glória, mas é usado como resposta ao Resumo da Lei na Ordem Penitencial, ou em resposta a cada afirmação do Decálogo;

f) Confissão, é uma confissão geral de pecados, que deve ser dita de joelhos. A referência foi colocada na revisão de 1675, por influência escocesa, pois que antes o presbítero permanecia de pé, o que ainda acontece na Inglaterra.

g) Absolvição, pode ser pronunciada pelo presbítero, ou pelo bispo, quando presente . Quem a pronunciar, fará voltado para o povo, porque se fala em o nome de Deus, cujas misericórdias não podem ser contadas e com Quem está o perfeito perdão.

h) Coleta do Dia: uma breve oração usada em conexão com alguma parte do culto. Originalmente, todas as litanias finalizavam com uma oração resumindo todas as petições e súplicas (a coleta da litania). Assim, desse papel da oração em reunir, coligir, proveio o nome de coleta (collectio, collecta). Coleta foi, pelo século VI, assimilada na coleta da litania que era usada a guisa de intróito ao ofício de comunhão. É devido a esse incidente que as nossas coletas de hoje, na sua grande maioria, tem como tema rogar pela graça e misericórdia divinas e, assim, como conclusão penitencial.


LITURGIA DA PALAVRA

a) Leituras: foi provavelmente São Jerônimo (340-420) quem primeiro escolheu e dispôs as Epístolas e os Evangelhos. A leitura do Antigo Testamento e Epístolas devem ser feitas do atril pelo(a) leitor(a). O Salmo do Dia deve de ser lido na forma antifonal e seguido do cântico (ou recitação) do Glória Patri (no tempo do Advento e da Quaresma devem ser omitidos, assim como qualquer cântico de “Glória”). O Evangelho é uma seleção de ensinamentos do ministério de Jesus e destina-se a proclamar algum evento da vida de Jesus ou alguns dos seus ensinos admiráveis. O Evangelho deve ser lido no meio da congregação, ou do púlpito (e não do atril), por um Diácono, quando presente, ou outro oficiante.

b) Sermão: após a última leitura bíblica e sua respectiva resposta pela comunidade, a Liturgia da Palavra continua com o Sermão, que deve versar sobre uma das leituras feitas, ou mesmo fazendo referência a todas.

c) Profissão de Fé: o Credo é a declaração oficial das verdades das Sagradas Escrituras sobre a qual se baseia a Igreja. Foi colocado na liturgia para combater as controvérsias. No Oriente, foi introduzido no ano 417, em Antioquia, e em Constantinopla no ano de 511. No Ocidente, o 3º Concílio de Toledo (589) ao inserir o Credo no rito mozárabe contra os arianos. Logo se difundiu na França; mas só foi incorporado à missa romana em 1014. O LOCb contém dois Credos: o Apostólico e o Niceno. O Credo dos Apóstolos é baseado no antigo Credo Romano, que se constituiu a partir do século II, em relação com a celebração do batismo. Foi provavelmente em Roma que tal texto se formou. O Credo Niceno, também conhecido como Niceno-Constantinopolitano, é uma paráfrase, um pouco aumentada, do Credo estabelecido pelo Concílio de Niceia, embora só fosse definitivamente elaborado pelo 2º Concílio, em Constantinopla, em 381. É o único Credo universalmente aceito. O LOCb ainda oferece outras formas de confissão alternativas

d) Oração dos Fiéis (Intercessões): as intercessões são feitas pela Igreja, seus membros e sua missão, pela nação e por todos que exercem autoridade, pela paz e salvação do mundo, pelas preocupações da comunidade local, pelos que sofrem, pelos que partiram.


LITURGIA DA EUCARISTIA

a) Ofertório, as sentenças do ofertório, que foram designadas para serem cantadas como antífonas (offertoria), servem agora somente para anunciar que se vai proceder à coleta nos serviços divinos e que vai começar o ato de oblação na ordem para a administração da Ceia do Senhor, podendo cantar-se um hino durante o mesmo. É parte invariável do culto desde o período apostólico (cf. 1Co 16.2). As salvas recebidas pelo ministro serão solenemente apresentadas e postas na Santa Mesa, passando depois para a credência, que é a mesa auxiliar. As ofertas partem do povo e significam seu respeito e louvor de gratidão a Deus. As oferendas serão apresentadas quando o povo estiver de pé. Faz-se, ainda, o ofertório ou apresentação dos elementos eucarísticos.

b) Saudação da Paz, feita após as intercessões, preparando para a o ofertório, é uma saudação entre as pessoas participantes do ofício litúrgico. O Novo Testamento menciona, como saudação, o ósculo santo, costume ainda comum nos povos orientais que, infelizmente, as igrejas ocidentais perderam (pode ser utilizada após a oração do Pai Nosso).

c) Oração Eucarística, a parte central, a parte sacrificial por excelência da Celebração da Santa Eucaristia. Sua correspondente nos ritos orientais é a “Anáfora”, e no romano, o “Cânon”. As palavras da Oração Eucarística não são fórmulas, mas uma oração que a comunidade dirige a Deus, conforme um padrão básico comum. Esse padrão parece estar preservado numa Oração Eucarística registrada na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma e anotada por volta do ano 215:

I) Saudação, um diálogo introdutório, cuja origem é o judaica (Seder);

II) Sursum Corda, convida-se a comunidade a elevar seus corações, o que equivale dizer pensamentos, a Deus (é um dialogo entre o celebrante e os comungantes que precede à eucaristia em todas as liturgias históricas);

III) Ação de Graças, o celebrante convida a todos a participar das ações de graças. Com estes três elementos, forma-se a chamada: Introdução (ou Diálogo), Sursum Corda e Convite.

IV) Prefácio, há dois prefácios: um permanente e outro do dia (chamado também de Próprio). Permanente: ao dar graças pelas grandes obras de Deus no passado (como Criador e Redentor), a comunidade proclama a sua fé na continuidade de tais atos no futuro. A confiança na continuidade da fidelidade Deus é que permite à comunidade entrar na celebração da Eucaristia, com a certeza de que ali Cristo estará presente e se entregará às pessoas comungantes. Próprio: muda conforme o dia, e no rito romano é considerado como uma porção introdutória à Oração. No LOCb, há Prefácios Próprios para o Natal, Epifania, Purificação, Anunciação, Transfiguração, Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, todos os santos etc. São os grandes eventos da vida de Jesus ou de significação histórica e doutrinária para Igreja. Variam conforme o Calendário Cristão, representam a significação e intenção da eucaristia que se celebra.  Os prefácios são expressões de nosso louvor a Deus pelas fases grandiosas do mistério da encarnação e da salvação.

V)    Sanctus, o uso frequente do Sanctus no ritual judaico talvez tenha influenciado em sua inclusão na liturgia. Às vezes dá-se o nome de Triságio ao Sanctus.

VI) Benedictus, a saudação proferida pela multidão a Jesus quando de entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21,9). Todas as liturgias anteriores à Constituição Apostólica (350) inserem o Benedictus após o Sanctus, exceto a liturgia do Egito. O LOC de 1549 uniu ao texto original do Sanctus o versículo de Lc 18.38, paráfrase que permaneceu, mesmo depois dos cortes feitos pela revisão de 1552.

VII) Memorial, refere-se à redenção. O rito romano se distingue pelo aspecto sacrificial, de modo que oblação é o tema que se nota por quase todo o cânone. O sacrifício, entretanto, é essencialmente eucarístico, isto é, trata-se de ação de graças pelos frutos da terra, pão e vinho, rogando que Deus os abençoe para a comunhão dos fiéis. Com o intuito de evitar que continuassem a interpretar as expressões do rito primitivo da eucaristia numa perpetuação do sacrifício do calvário, Cranmer eliminou toda a ideia de oblação dos elementos, fazendo com que as frases tivessem referência não aos elementos, mas às aspirações dos ofertantes, registrando na oração que o sacrifício e a morte de Jesus na cruz são únicas e definitivas.

VIII) Palavras da Instituição, em forma de uma narrativa, conforme pronunciadas por Jesus (cf., 1Co 11,24-25). A sua função é recontar o relato da Última Ceia de Jesus com seus discípulos, ou seja: autoridade para celebrar a Eucaristia não vem da comunidade, mas de Jesus na ultima ceia. Por isso, reconta-se aqui a narrativa da instituição. Ao dizer as palavras sobre o pão, ergue-se a hóstia, fazendo-se o mesmo com o cálice.

IX) Anamnese, in memoriam mei, não é mera lembrança, recordação, mas realização. A Anamnese chama, invoca uma pessoa ou um acontecimento do passado e o torna presente, ativo, efetivo, aqui e agora. “Seguindo o mandamento de Teu Filho, comemoramos, até que Ele venha”. A Anamnese torna eficiente ao comungante a obra de Jesus ocorrida no passado. O que aconteceu lá se torna válido, na Anamnese, ao comungante. Tem duas partes: , ela lembra aspectos essenciais da vida e obra de Jesus (a encarnação, a paixão, ressurreição e ascensão do Senhor; muitas vezes, cita também a mediação de Cristo à direita do Pai e sua Segunda vinda); 2ª, traz a declaração explícita de que se está aqui oferecendo o pão e o cálice, exatamente com esse significado e objetivo de celebrar a obra de Cristo, em obediência à Sua ordem.

X) Epiclese, termo grego, designa, normalmente, o pedido ao Pai, para que envie o Espírito Santo. Há dois tipos de epiclese nas Orações Eucarísticas: epiclese de consagração: invocação do Espírito sobre os elementos eucarístico, separando-os do uso comum ao sagrado; epiclese de comunhão: invocação do Espírito para que realize aquilo que é o fruto da Eucaristia, a comunhão em Cristo, sendo, assim, uma invocação do Espírito sobre a Igreja. Por meio dela se expressa que nem a pessoa oficiante, nem a comunidade, nem a Igreja são proprietárias da Eucaristia. Nenhuma delas tem em seu poder realizar o que a Eucaristia deve realizar, mas, somente Deus, por Seu Espírito.

XI) Intercessão pela Igreja, no mundo inteiro, pelos bispos, pelos ministros e fiéis, pelos falecidos que morreram na esperança da ressurreição, na memória dos santos e mártires, podendo ser uma intercessão geral.

XII) Doxologia, quer dizer “louvor”, “ação de graças”. A Oração Eucarística termina assim como começou. Trata-se de uma doxologia trinitária, ou seja, de uma exaltação da Trindade.

XIII) Amém.

d) Pai Nosso. Podendo seguir-se a saudação da paz, se não foi feita anteriormente.

e) Fração do Pão, ao partir dir-se-á um dos textos previstos no LOCb.

f) Agnus Dei, cântico primeiramente adotado na liturgia de São Tiago de Jerusalém, que pode ser dito ou cantado ou mesmo fazer a Oração de Humilde Acesso, ou ainda, cantar um hino apropriado.

g) Comunhão do Celebrante, que deverá ser feita enquanto se canta o Agnus Dei ou outro hino escolhido.

h) Comunhão dos presentes, que deve ser feita com os mesmos vindo á frente, ajoelhando-se, e com as palavras ditas pelo celebrante: “O corpo (sangue) de nosso Senhor Jesus Cristo te preserve na vida eterna”.

i) Coleta Pós Comunhão, o LOCb a insere como ação de graças depois da Comunhão. Neste ponto, retornou-se ao padrão das liturgias orientais, estabelecendo uma forma fixa.

RITOS FINAIS

a) Glória in Excelsis, se este cântico não foi feito ao início da liturgia, será incluído aqui, ao final do serviço religioso.

b) Bênção, retirada dos ritos romanos, continuou a ser usada nos ritos galicanos e naturalmente na Inglaterra, até ao tempo da Reforma, com formas variadas que se alteravam, conforme a estação eclesiástica, no Sarum. Era, porém, prerrogativa episcopal somente. No LOCb o ofício termina com uma bênção pronunciada pelo presbítero, em o nome de Deus. A bênção realizada pelo celebrante com os braços erguidos e a palma das mãos voltadas para baixo, sobre a congregação. Este é um gesto de imposição de mãos sobre os eclesianos.

c) Despedida, Cranmer deixou de lado o ite, missa est, substituindo pelo “vamos partir em paz” do rito bizantino, que lhe inspirou a buscar a frase de Paulo em Fl 4.7, com que se inicia a fórmula que temos em no LOCb, e que é privilégio do Diácono proferir.



* Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes, ofa, é Presbítero da Diocese do Recife; Pároco da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade, em Copacabana, Rio de Janeiro; Venerável Arcediago Sul-Sudeste; Frei da Ordem Franciscana Anglicana (OFA).
Contato: revbeto@gmail.com .